3.3.06

Cuidado para não queimar a língua

Talvez muitos tenham ficado surpresos com os dados divulgados pela pesquisa do Ibope nesta quinta-feira, 02/03. Não deveriam. Não é nenhuma esquisitice do eleitorado paulista colocar a ex-prefeita de São Paulo e petista Marta Suplicy à frente na disputa para o governo do Estado.

Os que querem fazer disso uma coisa inusitada são os mesmos que, há mais de 8 meses, voltaram toda a sua artilharia para acabar com o governo Lula e ainda mais, com a possibilidade de haver neste país governos de perfis democráticos e populares. Esse desejo foi expresso por um dos porta-vozes desses setores, o senador do PFL Jorge Bornhausen, que chegou a dizer em alto e bom som que o Brasil iria ficar “livre dessa raça”.

Então vejamos qual é o contexto da disputa eleitoral para o governo de São Paulo hoje, no momento do anúncio da pesquisa Ibope. O PSDB, partido que vai completar no final do ano 12 anos consecutivos no governo paulista, está em meio a uma crise nacional, cujo centro é a disputa para decidir quem será o candidato à Presidência da República. Essa disputa envolve 2 postulantes paulistas, Alckmin e Serra. Desta forma, as outras candidaturas estão subordinadas a esta definição principal. Além disso, o PSDB paulista carece de lideranças públicas fortes, com apelo eleitoral, capazes de capitalizar a aprovação da qual o atual governo goza. Os nomes tucanos cogitados até o momento são inexpressivos e desconhecidos do eleitorado, como José Aníbal, que na pesquisa aparece com apenas 5% das intenções de voto.

O PMDB aparece postulando a posição de terceira via. O principal nome é o do ex-governador Orestes Quércia, que aparece em segundo lugar na pesquisa com 20% das intenções de voto, mas que tem grande rejeição no Estado. Também, aqui, a definição de qual postura o PMDB irá adotar para a disputa nacional terá reflexos.

Nesse cenário, a maior liderança paulista é de fato Marta Suplicy, com 26% das intenções de voto, segundo o IBOPE. Vale lembrar que Marta perdeu a reeleição para Serra por uma pequena margem. A ex-prefeita teve 45% dos votos, demonstrando elevada aprovação e grande capital político. Sua gestão foi fortemente marcada por ter priorizado as áreas mais carentes da cidade e projetos voltados para a população trabalhadora, na área de transporte público, educação, habitação e outros.

Outro fator que contribui, de forma determinante, para o resultado da pesquisa, é o bom desempenho do governo Lula e a ampliação de sua aprovação, que também pode ser constatada na pesquisa Ibope, ao mostrar que na capital, Lula praticamente empata com o prefeito José Serra nas intenções de voto.

Ou seja, vamos com calma que o Santo é de barro. Os que se apressaram em prognosticar o fim da esquerda e a inevitável volta do tucanato à presidência devem colocar a barba de molho. O governo Lula tem muito para mostrar, e ainda tem, é certo, muito a fazer
.

Um comentário: