18.6.10

A última página do Caderno de Saramago

Hoje, as palavras estão embaralhadas. As letras, desorientadas, não conseguem se reunir para dar sentido a alguma coisa. Silêncio e vazio. O papel está em branco. A caneta, viúva. A lucidez foi borrada. Neste dia, o mundo diz adeus a José Saramago.

Saramago não foi apenas um escritor, um dos melhores da contemporaneidade, foi um pensador, um homem de reflexões e inquieto, que não se contentava em apenas ver o mundo, mas queria transformá-lo.

Quando a sociedade condena o idoso à poltrona e ao antigo, Saramago não se intimidou diante das novas tecnologias e ocupou a internet fazendo dela mais uma trincheira na luta de ideias. Criou os Cadernos de Saramago, onde colocava seus pensamentos. O último foi postado em 13 de fevereiro. Desde então, estamos acompanhando os Outros Cadernos de Saramago, onde trechos de suas obras e textos publicados na imprensa estão sendo reproduzidos.

O deste dia de perda, trás o que é a síntese de uma vida dedicada às ideais:

Pensar, Pensar:
“Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de reflexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, não vamos a parte nenhuma”

Revista do Expresso, Portugal (entrevista), 11 de Outubro de 2008.

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