Uma das principais características da TV Digital que está em
fase de implantação no Brasil é a multiprogramação. Reside aí uma possibilidade
real para democratizar a comunicação, incluindo novos atores sociais na produção
de conteúdos audiovisuais.
Também pode ser um meio de expansão do campo público de
radiodifusão. Uma iniciativa neste sentido partiu da Câmara dos Deputados, que
está compartilhando seus canais de TV Digital com casas legislativas municipais
e estaduais para constituir uma Rede Legislativa de TV Digital.
A população de oito capitais e cidades do interior paulista
e mineiro poderá assistir, no canal 61, às programações da TV Câmara, da TV
Assembleia do Estado e da TV da Câmara Municipal.
Mais do que palanque eleitoral
Muito mais do que transmitir discursos de parlamentares e votações de projetos de lei, as TV´s legislativas podem se constituir como emissoras de debate de temas nacionais, estaduais e municipais. Podem ser veículos de reflexão sobre as questões relacionadas à cidadania, à moradia, saúde, educação, urbanismo e tantas outras.
Muito mais do que transmitir discursos de parlamentares e votações de projetos de lei, as TV´s legislativas podem se constituir como emissoras de debate de temas nacionais, estaduais e municipais. Podem ser veículos de reflexão sobre as questões relacionadas à cidadania, à moradia, saúde, educação, urbanismo e tantas outras.
Estas emissoras podem ser, além de instrumentos de
transparência parlamentar, meios de participação popular, uma vez que a TV
Digital também permite a interatividade pelo canal de retorno.
A TV Câmara tem tateado esse universo, buscando produzir
programas com estas vocações. Vale destacar o Ver TV e o Expressão Nacional.
Claro que perseguir uma vocação pública, com programação de
qualidade, que esteja aberta para a produção independente e local, refletindo a
diversidade e a pluralidade na discussão dos mais variados temas requer profissionalismo,
dedicação e recursos.
Para ter relevância e não ser apropriada por interesses
eleitorais, as emissoras legislativas precisam se propor a ter uma gestão
plural e aberta à participação social – já que as casas legislativas são, por
definição, espaços da representação popular.
Desafio instigante para a sociedade
Mais do que isso, essas emissoras podem contribuir para a
consolidação de um sistema público de radiodifusão. Enfrentando o desafio de encontrar
a vocação de cada veículo público, de como fazer uma programação que se diferencie
da veiculada pelas emissoras privadas e de como se relacionar com a sociedade.
No Brasil, a experiência na construção de um campo público
de comunicação é muito insipiente, mas algumas iniciativas estão em curso, com
destaque para a TV Brasil e emissoras educativas estaduais. Ler também Como fazer uma TV pública?
Não é de se admirar que todas essas iniciativas e outras que
surjam neste sentido sejam boicotadas pelo setor privado: a radiodifusão
privada ignora a existência de um campo público, os jornais e revistas tratavam
a TV Brasil como a TV do Lula. A Folha de S.Paulo chegou a pedir em editorial o
fechamento da TV Brasil.
Por isso, não é surpreendente que a página A4 da Folha de
S.Paulo desta segunda-feira (28) aborde o surgimento de canais digitais para as Câmaras de Vereadores como palanque eleitoral eletrônico.
O que não fazer
Se ainda não há um manual a ser seguido com dicas sobre o
que fazer para construir emissoras públicas de relevância, pode-se dizer que já
há um elenco de questões sobre o que não se deve fazer.
Usar as estruturas das TV´s legislativas como moeda de troca
na disputa do poder – eleições de mesas diretoras por exemplo –; aparelhamento
da TV por parte de um parlamentar ou partido; gestão centralizada sem
participação social são alguns pontos que podem colocar a perder a ideia de
constituição de um campo público.
Quanto mais longevo for o projeto e com menores espaços de
apropriação, mais próximo dos anseios de fortalecimento de um projeto de comunicação
democrático e plural. A responsabilidade desse processo não é só dos
parlamentares, mas é de toda a sociedade. Por isso, é importante ficar atento e
procurar o diálogo com as casas legislativas para debater esse tema.
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