Compromisso com universalização da Banda Larga, afirmado por Dilma Rousseff, pode criar novo ambiente para debate sobre o futuro das telecomunicações no país.
O evento Diálogos
Conectados realizado pela Campanha Banda Larga é um Direito Seu com
a candidata à reeleição Dilma Rousseff foi uma importante
oportunidade para conhecer um pouco melhor os problemas envolvendo as
políticas de telecomunicações no Brasil e as propostas para
enfrentá-las.
A presidente da
República foi taxativa durante o evento ao dizer que é preciso
levar Banda Larga para todos, com qualidade e não só para os que
podem pagar. Ela afirmou que construir uma grande malha de
infraestrutura de telecomunicações no país é, ao seu ver, o
desafio mais importante para o Brasil no próximo período. Que este
é o gargalo para um projeto de desenvolvimento nacional mais robusto
e será, no seu próximo mandato, prioridade. Por isso, sua meta é
universalizar a Banda Larga, recuperando o papel da Telebras e
garantindo investimentos massivos, com recursos públicos e privados,
para ampliar a infraestrutura de fibra ótica em todo o país. Para
isso, Dilma propôs uma Lei de Universalização da Banda Larga para
enquadrar a prestação deste serviço no regime público e privado e, assim, fazer com que em 4 anos mais de 90% do país tenha acesso à
internet Banda Larga.
Se compreendermos Banda Larga como uma infraestrutura que da suporte à transmissão de dados, sons, imagens e voz e, portanto, algo que é muito mais do que apenas acesso à World Wide Web; e se considerarmos o cenário de declínio da telefonia fixa, então o debate de uma Lei de Universalização da Banda Larga pode conter elementos que regulem a oferta de todos os serviços que estão utilizando essa infraestrutura. Estaríamos falando de uma possível regulação convergente?
Se compreendermos Banda Larga como uma infraestrutura que da suporte à transmissão de dados, sons, imagens e voz e, portanto, algo que é muito mais do que apenas acesso à World Wide Web; e se considerarmos o cenário de declínio da telefonia fixa, então o debate de uma Lei de Universalização da Banda Larga pode conter elementos que regulem a oferta de todos os serviços que estão utilizando essa infraestrutura. Estaríamos falando de uma possível regulação convergente?
Voltando um pouco na
história
Em 1997, o governo
Fernando Henrique Cardoso vendeu a preço de banana a Telebras,
privatizando um setor estratégico para o desenvolvimento econômico
e social e para a defesa da soberania do país. Na privatização da
telefonia – porque até aquele momento os serviços de
telecomunicação praticamente se resumiam ao Serviço Telefônico
Fixo Comutado (STFC) – bilhões de reais em redes de transporte e
imóveis foram repassados ao setor privado, através de contratos de
concessão, para a prestação do serviço que deveria obedecer metas
de universalização. A privatização da Telebras se constitui em um
dos maiores danos ao patrimônio brasileiro.
Com a proliferação da
telefonia celular e o surgimento da internet Banda Larga, o cenário
das telecomunicações tem passado por importantes modificações, e
o papel das novas tecnologias ganhado uma centralidade política e
econômica cada vez maior.
Desde 2009, entidades
do movimento social têm insistido que o Brasil precisa reconhecer a
Banda Larga como um serviço essencial, de interesse coletivo e que,
portanto, precisa ter o seu acesso garantido pelo Estado para todos
os brasileiros, em todos os cantos do país, com boa qualidade e a
preços acessíveis.
Esta bandeira, vai
muito além da simples readequação de um regime jurídico para a
prestação de um serviço público, ela tem um sentido contrário ao
movimento privatista de cunho neoliberal realizado por FHC. Sem ser
estatizante, a luta pela universalização do acesso à Banda Larga
pressupõe um novo protagonismo do Estado brasileiro como agente
indutor da economia, e inclusive competindo com o setor privado onde
esta disputa se faça necessária para atender ao interesse público.
Em 2010, o governo Lula
lançou o Plano Nacional de Banda Larga – PNBL – que fazia um
diagnóstico bastante crítico da situação da banda larga no
Brasil. Afirmava que era um serviço caro, de pouca qualidade e para
poucos e responsabilizava o setor privado por aquele cenário. Entre
as propostas para enfrentar os problemas e a insuficiência na
infraestrutura estava a reativação da Telebras e o seu
fortalecimento para cumprir funções tanto de gestora do Plano, como
para atuar no mercado do atacado, a partir da recuperação da redes
públicas existentes e, onde não houvesse interesse significativo de
mercado, atuar no varejo, oferecendo conexão na última milha para
garantir o acesso à Banda Larga. Outro aspecto positivo do PNBL era
a criação de um instrumento de debate e acompanhamento da política
que contaria com a presença de representantes do movimento social,
das empresas de Telecom e do governo, o Fórum Brasil Conectado
(FBC).
Mas o PNBL era, apesar
disso, demasiadamente tímido, já que em nenhum momento falava de
universalização do acesso à Banda Larga, mas apenas de
massificação do acesso. Também, num primeiro momento, considerava
como Banda Larga conexões de 512 kbps. Outro aspecto problemático
na proposta era apostar demasiadamente na força do mercado para
realizar essa massificação e, principalmente, mantendo a oferta
deste serviço em regime privado.
As entidades criticaram
fortemente estes aspectos do PNBL e tentaram disputar, na construção
dessa política, estes pontos, apresentando propostas para que o
plano pudesse efetivamente dar consequência prática para resolver
os problemas tão bem analisados no diagnóstico.
Principalmente a
necessidade de o governo deixar de falar em massificação e assumir
que é preciso universalizar a Banda Larga. Mas o Fórum Brasil
Conectado foi desativado, os espaços de diálogo com o governo
interditados e o programa foi sendo esvaziado, até praticamente ser
abandonado.
Voltando aos dias de
hoje
Por tudo isso, o
compromisso de universalização apresentado por Dilma é algo
importante no atual contexto. Universalizar pressupõe iniciativas do
Estado brasileiro para garantir a oferta do serviço, mesmo que ele
se dê com forte participação do setor privado. E impõe às
empresas de telecomunicações uma série de obrigações para que o
serviço seja prestado. E ela se comprometeu com isso.
Mas, para colocar este
projeto em prática, Dilma apresentou a proposta de criar um Lei de
Universalização da Banda Larga. E foi este, sem dúvida, o elemento
surpresa na discussão e um caminho bem diferente do proposto pela
Campanha Banda Larga, que é o de colocar a Banda Larga em regime
público (ou seja, com as empresas precisando cumprir metas de
universalização, modicidade tarifária e continuidade do serviço)
por decreto presidencial.
Na visão da campanha,
para que o governo defina a Banda Larga como um serviço que precisa
ser universalizado, enquadrando as empresas nas obrigações
previstas no regime público, basta um decreto presidencial definindo
a Banda Larga como serviço de interesse coletivo, nos termos do
artigo 18 da LGT. Isso, porque o Marco Civil da Internet, já definiu
que o acesso à internet deve ser um direito de todos e que ele é
essencial ao exercício da cidadania (artigos 4º e 7º).
Bom, não é este o
caminho apontada por Dilma Rousseff, que considera o decreto um
instrumento frágil e passível de judicialização por parte das
empresas e que, neste caso, o melhor seria fazer um Lei para a
Universalização da Banda Larga.
Dilma tem razão ao
dizer que o decreto tem menos força política que a Lei, e a
campanha tem razão ao dizer que o decreto é legal e seria o caminho
mais curto para enfrentar o problema. Então, qual caminho é o
melhor?
Difícil dizer,
principalmente em função do forte poder político e econômico das empresas de Telecomunicações. Mas, este não é o ponto.
A questão que fica da proposta feita pela Dilma, e em torno da qual vale mais reflexão é: partir da presidenta da República e da candidata a reeleição a proposta de se criar uma nova Lei de Universalização da Banda Larga não pode ser um instrumento político para enfrentar outros gargalos no debate das telecomunicações, decorrentes da privatização feita por FHC cuja expressão jurídica é a LGT?
A questão que fica da proposta feita pela Dilma, e em torno da qual vale mais reflexão é: partir da presidenta da República e da candidata a reeleição a proposta de se criar uma nova Lei de Universalização da Banda Larga não pode ser um instrumento político para enfrentar outros gargalos no debate das telecomunicações, decorrentes da privatização feita por FHC cuja expressão jurídica é a LGT?
Partir do pressuposto
que o debate de uma Lei seria de cara uma derrota para as propostas
que visam garantir o interesse público, fortalecendo o Estado para
universalizar o acesso à Banda Larga não é razoável.
Principalmente se olharmos que duas importantes leis dentro deste
campo foram aprovadas no Congresso Nacional, me refiro ao Marco Civil
da Internet e à Lei do SeAc – Serviço de Acesso Condicionado (TV
por assinatura).
É verdade que a
presidenta não detalhou o que seria esta Lei e sua abrangência, mas
ficou bastante claro que ela domina o tema, e que sua meta é
universalizar. Ela disse com todas as letras que a universalização
não será feita só pelo setor privado e também disse que o Estado
não tem condições de fazê-lo sozinho. Portanto ela foi clara ao
dizer que o caminho é mesclar Estado e iniciativa privada. Falou em
regime público e em regime privado. Disse com todas as letras que o
STFC caminha para a extinção. Então o espaço que fica entre o que
foi dito e o que não foi detalhado, pode sim ser preenchido com
propostas mais avançadas de fortalecimento do Estado e garantia do
interesse público. E para isso, é preciso disputar politicamente e
continuar cavando espaços importantes como este debate realizado na
terça-feira (09/09) no Sindicato dos Engenheiros em São Paulo.
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