4.4.06

Janela sobre a Indignação 2

Todos os dias atravesso os 20 km da rodovia Raposo Tavares que separam a minha casa da cidade de São Paulo. Procuro, sempre que dá, fugir dos horários de pico. Nas terças-feiras isso não é possível e, então, enfrento o congestionamento daqueles que optaram por morar no 'campo' e trabalhar na 'cidade'. Sem reclamar, porque eu me incluo entre os que fizeram essa opção e, por mais que muitos amigos me chamem de louca, acho que vale muitíssimo a pena e, inclusive, indico.
Na verdade, o trânsito até que não me encomoda tanto - logo de manhã, procuro encarar esse tempo 'ocioso' de uma maneira 'produtiva'. As vezes curtindo um CD, na maioria escutando o noticiário que, como costuma dizer meu ex - um dos sinais de que você está ficando velho é deixar de ouvir música para ouvir a CBN.
Hoje não foi diferente. Mas, já perto de São Paulo e tendo ouvido todas as notícias - que começavam a se repetir, mudei para a música. Quando, uma confusão alguns metros adiante anunciava mais um acidente na Rodovia. E, como na maioria deles, envolvendo um motoqueiro.
Lá estava o corpo estendido no chão, literalmente, a mulher que dirigia o carro ao lado, desesperada, vários motoqueiros em volta, do atropelamento que deveria ter acontecido bem naquele instante.
Confesso que fiquei abalada com aquilo. Principalmente com o prosseguimento do fluxo, as pessoas nos carros ao lado continuando suas rotinas, ouvindo músicas em altos volumes, outros motoqueiros arriscando suas vidas no zigue-zague entre os carros.
Desliguei o som. Fiquei impressionada como a gente, todos nós, desenvolvemos mecanismos de ver o padecimento alheio, a miséria, e todas as distorções produzidas pela nossa sociedade e ficarmos imunes, indiferentes. Como diria Brecht, estamos perdendo a capacidade de nos indignar.

4 comentários:

  1. Anônimo1:23 PM

    rê, concordo com vc. uma vez me disseram que é muito mais difícil a gente perceber e se indignar com aquilo que nos é muito próximo, cotidiano. mas quem consegue perceber isso, por outro lado, é diferenciado. quanto a morar longe, tb sou do clube e hj vejo mais vantagens do que problemas nisso. saudades, bjs.

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  2. Anônimo5:40 PM

    Sobre a capacidade de perder a indignação, destaco uma frase de "Hotel Ruanda", o filme mais obrigatório da década. Diz o personagem de Nick Nolte ao de Don Cheadle após este último comentar que o mundo iria tomar uma atitude ao ver na TV as imagens do genocídio em Ruanda: "I think if people see this footage, they'll say 'Oh, my God, that's horrible'. And then they'll go on eating their dinners."

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  3. Eu preciso corrigir urgentemente o grave erro de ainda não ter visto Hotel Ruanda. Pretendo fazê-lo, sem falta, neste fim-de-semana!

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  4. Anônimo4:33 AM

    Ó eu aqui tb... Tô nessa madrugada de desemprego fazendo visitas a blogs amigos hahahahahahhahaa...

    Então, a Raposo é, além de tudo, um palco para os maiores acidentes da história. Certa feita, um carro passou por cima do muro de proteção e voou sobre o carro da minha mãe...

    São as vantagens de morar no interiorrrr...

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