22.7.06

Para Guarnieri

Caiu a cortina. Hoje não haverá espetáculo. Primeiro a ausência de Raul Cortez, agora a ausência de Gianfrancesco Guarnieri. Dois gigantes, duas referências da cultura nacional.

As peças escritas por Guarnieri são marcos do nosso teatro. Sempre focado em temas nacionais e nos problemas sociais, Guarnieri se consagrou com Eles Não Usam Black-Tie, de 1958. Autor, diretor, ator, sua vida foi inteiramente dedicada à valorização da cultura nacional, popular, identificada com a realidade sócio-política do país.

Mas quem lembra do Guarnieri nem sempre o associa à música. Sim, ele também compunha, e muitas canções famosas têm seu carimbo, como Upa, Neguinho - que compôs com Edu Lobo para a peça Arena Canta Zumbi, de 1965 e que ficou imortalizada com a interpretação de Elis Regina.

Minha homenagem para Guarnieri vem por intermédio das palavras certeiras de Eduardo Galeano:

Aqueles aplausos

Desde que García Lorca havia caído, crivado de balas, no alvorecer da guerra espanhola, A sapareira prodigiosa não aparecia nos palcos de seu país. Muitos anos tinham se passado quando os teatreiros do Uruguai levaram essa obra a Madri.
Atuaram com alma e vida.
No final, não receberam aplausos. O público se pôs a pisar forte no chão, com fúria total, e os atores não entendiam nada.
China Zorrilla contou:
- Ficamos pasmos. Um desastre. Era de chorar.
Mas, depois, explodiu a ovação. Longa, agradecida. E os atores continuavam sem entender.
Talvez aquele primeiro aplauso com os pés, aquele trovão sobre a terra, tenha sido para o autor. Para o autor, fuzilado por ser comunista, por ser maricas, por ser esquisito. Talvez tenha sido uma forma de dizer a ele: Veja, Federico, como você está vivo.

Um comentário:

  1. Grande texto, Rê!
    É uma daquelas perdas inestimáveis, como já fora a do Raul Cortez.

    Ah, e aproveito para ratificar algo que você escreveu no post anterior:

    "Elsa y Fred" não é o melhor, o mais criativo ou o mais bem realizado filme lançado este ano no Brasil. Mas é provavelmente o mais prazeroso entre os 68 a que eu assisti no cinema em 2006.

    Delicado, doce, cativante, otimista. Uma experiência das mais necessárias.

    Ah, a cena do restaurante já vale o ingresso!

    Beijos

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