27.4.09

Ombudsman da Folha: a ousadia de perguntar e o medo de responder

Em sua coluna dominical, o jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, ombudsman da Folha de S.Paulo, levantou alguns questionamentos que deixou sem resposta. Todos relativos à cobertura do jornal sobre as irregularidades envolvendo os congressistas brasileiros.

As questões levantadas pelo ombudsman e deixadas sem resposta foram: "Por que não mostrar ao leitor-cidadão como agir para interromper essa vertente de destempero do Congresso? Quais são as ONGs que se dedicam a combatê-la? Que medidas podem ser tomadas para estancá-la? E por que não um pouco de autocrítica? Mas por que o jornal não apontou antes a existência de mais de dois diretores por parlamentar no Senado? Como não acusou por 49 anos a sobrevivência das passagens de Brasília ao Rio, oferecidas na mudança da capital? Quantas vezes ele não terá sido usado como instrumento de políticos que desvelam os abusos do inimigo apenas para se beneficiar?"

Sem dúvida que as perguntas de Carlos Eduardo Lins da Silva são pertinentes, mas por que deixá-las sem resposta? Talvez porque respondê-las signifique publicar nas páginas do jornal o seu próprio obituário, ou melhor posto, o obituário dos princípios que a Folha de S.Paulo alardeia defender, quais sejam: a imparcialidade, o compromisso com os fatos.

A Folha não faz a cobertura sugerida pelo ombudsman porque não interessa a sua linha editorial, porque é um jornal que está alinhado com a defesa de um projeto político para o Brasil que se confronta diretamente com o que está em curso no país desde a eleição do Lula.

Refiro-me ao ideário liberal, que mesmo em franca decadência - fruto da crise que abalou as convicções em torno do modelo econômico dominante - continua sendo o norte da mídia hegemônica brasileira, e neste caso, do jornal Folha de S.Paulo.

E, no Brasil, a expressão desse projeto político é o PSDB. Portanto, vale-tudo para desqualificar a política, a participação popular e os instrumentos democráticos.

É esse liberalismo conservador que suscitou a Folha a fazer o questionamento em torno da participação popular através do voto, afirmando em editorial – também publicado neste domingo – que uma das saídas para essa situação é o fim do voto obrigatório. O raciocínio primário do jornal está baseado numa suposta incapacidade do eleitor que, uma vez obrigado a votar, o faz sem o compromisso devido.

O que sustenta essa opinião é a visão preconceituosa de que são as camadas mais populares e carentes da sociedade as responsáveis por manter no poder os corruptos ou supostamente corruptos.

Essa visão corrosiva do jornal que se revela numa cobertura qualificada por Lins da Silva “como moralista, zombaria grosseira e destrutiva”, “é insuficiente para colaborar com a melhoria das instituições e traz em si um risco enorme de ajudar a corroer a confiança da sociedade nelas ou incentivar uma ira paralisante”, como concluiu o ombusdman.

Também é esse compromisso conservador o que explica a reportagem sobre a atuação de Dilma Rousseff durante a ditadura, reproduzindo uma ficha veiculada como spam pela internet.

A máscara de parcialidade da Folha vai caindo. Seria melhor que caísse logo. Pelo menos assim a disputa de ideias seria travada abertamente.

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