É feriado em São Paulo, 09 de julho. O que se comemora hoje praticamente ninguém sabe. Se alguém sair às ruas e perguntar, aposto 100 contra 1 que poucos saberão dizer o nome do feriado e, dos que souberem, apenas alguns conhecem o que aconteceu exatamente neste dia do ano de 1932.
Há muita controvérsia em torno da Revolução Constitucionalista - episódio que marcou o combate feito pela elite de São Paulo ao governo de Getúlio Vargas. Um olhar possível sobre o assunto é a leitura do livro "A revolução de 1930", do historiador Bóris Fausto. Nele há um retrato detalhado da sociedade brasileira e, em particular da paulista, que se constituia com a nascente República e a decrescente economia cafeeira. É um livro polêmico na análise, mas rico de informação.
Vencedores e vencidos
Até hoje há visões diferentes sobre quem foram os vencedores e quem foram os vencidos. Os paulistas não sabem se devem se orgulhar ou se envergonhar do episódio. Ainda assim, ergueu-se o monumento em homenagem aos heróis de 32 - um obelisco cravado no coração de São Paulo, no Parque do Ibirapuera. E, mas recentemente, desde 1995, instituiu-se o feriado nesta data.
Foi em 09 de julho que se deflagrou o conflito armado entre os paulistas e os getulistas. O conflito se extendeu até 02 de outubro, quando a resistência paulista foi dobrada e seus principais líderes presos.
Antes do acirramento do conflito, o episódio considerado o estopim para o início da revolução foi a morte de quatro jovens ativistas durante uma manifestação em São Paulo. Mário Martins de Almeida, Euclides Miragaia, Dráusio Marcondes de Sousa e Antônio Camargo de Andrade. Seus nomes deram origem ao MMDC - Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, uma organização clandestina que recrutava todos os que queriam combater o governo Vargas.
A sociedade precisa recuperar sua história, estudando-a para enriquecê-la e enriquecendo-a para compreender mais profundamente sua formação social, política, econômica e cultural. De que adianta o feriado de 9 de julho se poucos sabem sobre ele?
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ResponderExcluirSalve Rê! Alguns comentários sobre a sua postagem, e como sou historiador, paulista, paulistano e Sãopaulino, nascido no Cambuci, posso chutar o balde da paulistada de 32 sem medo de ser feliz!
ResponderExcluirOlhando algumas matérias sobre a "revolução" de 32, identifico o que chamo de "paulistanice" acrítica, cometida por boa parte dos paulistas que tratam da questão. Que "paulistanices" são essas?
1) Tratar o governo de Getúlio Vargas, instalado com a Revolução de 30, como uma ditadura contra a qual hipotéticamente os paulistas se levantaram, em nome da democracia e pela instalação de uma Assembléia Constituinte;
2)Mesmo com a derrota militar da "revolução", houve uma vitória política de São Paulo pois Getúlio convocou a ANC logo depois do fim do conflito armado.
Muita calma nessa hora!
A Revolução de 30 foi de fato uma Revolução - armada, com povo na rua, com amplos setores sociais apoiando a queda do governo de Washington Luis e o impedimento da posse de Julio Prestes, candidato eleito por São Paulo, que havia derrotado Getúlio nas eleições de março daquele ano, numa das eleições mais fraudulentas da história da República Velha. Varria-se com ela o predomínio da oligarquia cafeeira de São Paulo, que instrumentalizava o Estado Nacional para garantir a lucratividade dos grandes produtores rurais paulistas. Varria-se também uma constituição que permitia a participação de no máximo 5% da população brasileira nos processos eleitorais (só votavam homens, maiores de 21 anos e alfabetizados; o voto não era secreto e a fraude eleitoral era a regra).
Vale a pena dar uma rápida olhada na plataforma eleitora da Aliança Liberal comandada por Getúlio para as eleições de março de 30: o programa aliancista defendia a representação popular através do voto secreto, a Justiça Eleitoral, a independência do Judiciário, a anistia para os revolucionários de 1922, 1924 e 1925-27, e a adoção de medidas econômicas protecionistas para produtos de exportação além do café. Preconizava, ainda, medidas de proteção aos trabalhadores, como a extensão do direito à aposentadoria, a aplicação da lei de férias e a regulamentação do trabalho do menor e da mulher.
Por fim, é preciso considerar que após a Revolução de 30 - como em qualquer revolução que mereça esse nome - as forças políticas e sociais que assumiram o país precisavam varrer as antigas estruturas predominantes sobre o Estado Nacional e sobre as unidades da federação, preparando o terreno para um novo patamar institucional e isso leva tempo, tempo político. Seria pura idiotice do novo governo convocar imediatamente uma Assembléia Constituinte utilizando as leis eleitorais vigentes até 30. Entre o início da Revolução - outubro de 30 e o início da revolta paulista, o tal 9 de julho - o governo Vargas havia criado um novo código eleitoral consolidado em fevereiro de 32 e anunciado eleições para o início de 1933.
Quer me parecer que o grande pecado de Getúlio em relação ao estado de São Paulo foi uma grande inabilidade em incorporar decisivamente às estruturas novas que se estavam montando, inclusive no processo de intervenções junto aos governos estaduais, o Partido Democrático, paulista, que havia rompido com a oligarquia do café e apoiado a Aliança Liberal nas eleições de 30 e na eclosão da Revolução de outubro. Ao errar na mão com relação a esse aspecto, Getúlio jogou o PD de volta aos braços da oligarquia sedenta de revanche, inconformada com a perda do controle sobre o país, terror acentuado pela brutal crise econômica "made in USA" iniciada com a quebra da bolsa em 1929.
Por fim, só um reparo: ao final d sua postagem você coloca o MMDC como movimento secreto contra o Estado Novo. Quero crer que foi um equívoco de nomenclatura, uma vez que a ditadura do Estado Novo (essa sim, ditadura!)foi implantada cinco anos após o fim dos conflitos armados de 32.
Abraços tricolores!
Salve Altair... fiz o post inteiro pensando em ti. Minha intenção com ele foi levantar o debate e não explicitar minha posição sobre o movimento conservador/reacionário das elites paulistas para manter o seu poder político e econômico. Obrigada pela análise. Quanto ao último parágrafo, um vício de jornalista em evitar repetições de termos e palavras acabou se transformando num erro histórico - vou ajeitar imediatamente. bjs
ResponderExcluirSalve Rê, novamente!
ResponderExcluirGostei bastante do post e, olhe só, acabou gerando uma postagem no meu blog. Tinha pensado em escrever algo a respeito, mas confesso que tinha ficado sem "gancho". Ao ler tua postagem, fiquei inspirado...rs..São as influências tricolores de paulistanos que não entram naquele conto dos anos 30.
Viva São Paulo!E viva O São Paulo!