18.8.09

Ameaça de bomba e chuva São Paulo não aguenta

Nas condições normais de temperatura e pressão a cidade de São Paulo vive cotidianamente o caos de uma metrópole que não possui um sistema público de transporte interligado, ramificado, inteligente e que substitua o automóvel privado.

Se adicionarmos chuva e ameaça de bomba a este já borbulhante caldeirão, a mistura resulta num dia caótico, com quebra de recordes de congestionamento, vias entupidas e todos os ingredientes necessários para desembocar num dia de fúria.

Foi o que aconteceu nesta terça-feira, com a chuva que nem era tão forte e a ameaça de bomba no Conjunto Nacional, cartão postal da Av. Paulista.

Três vias arteriais do centro paulistano foram imediatamente atingidas: Dr. Arnaldo, Rebouças e Paulista. O motorista ficou sem alternativa. O que lhe restava era respirar fundo e procurar, como aconselha a música - manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo.

Para onde vai São Paulo
As soluções urbanísticas para a cidade não são triviais, mas certamente passam por uma decisão política ousada de enfrentar a lógica mercantil da locomoção individual que sustentou o crescimento urbano em nosso país. Ao invés de comemorar o crescimento no ritmo de emplacamento de carros na região metropolitana, era preciso se construir políticas que diminuissem a quantidade de novos veículos que ingressam na frota da cidade.

Alterar essa lógica requer investimento massivo em transporte público, remodelando todo o sistema, cortando a cidade por linhas interligadas de ônibus, metrô e bolsões de estacionamento para automóveis nos bairros de acesso. Também seria necessário mudar a posição que o táxi desempenha hoje nesse sistema. Baratear as corridas e aumentar a frota para que o táxi possa ser uma alternativa real de locomoção na cidade, complementando o sistema de transporte, reduziria muito a circulação de veículos particulares.

Sem uma ação que caminhe neste sentido, São Paulo - como muitos estudiosos já projetam - irá parar.

Pressão econômica x vontade política
Acontece que mexer nessa ferida da cidade não é nada fácil. Será preciso enfrentar interesses econômicos poderosos de montadoras de veículos, bancos e empresas de crédito, seguradoras, enfim inúmeros setores da sociedade que sobrevivem e lucram com base no paradigma do transporte individual.

Interferir nessa cadeia requer convicção, ousadia e vontade política. Exigiria, também, estudos para redução de impactos econômicos negativos, com realocação de funções nessa cadeia produtiva.

Sairiam ganhando a cidade, as pessoas, o meio ambiente e a econômia, numa lógica de redistribuição de renda que tal mudança poderia gerar para São Paulo.

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