27.10.09

A sociedade no controle

Nos jornais desta terça (27), uma propaganda institucional da Rede Globo de televisão me deixou com a pulga atrás da orelha. “O telespectador está no controle. E ele quer qualidade”, diz o anúncio. O controle remoto é usado como ícone deste “poder” que o telespectador possui de trocar o canal caso a programação não lhe agrade. E, é claro, o nível de satisfação com a programação é medida pelo Ibope.

globocontroleremoto
O que leva à Rede Globo fazer uma publicidade que aborde o tema “controle”? Porque será que a emissora “toda poderosa” do país levanta este assunto e, em particular, no momento em que estão em curso os debates da 1ª Conferência Nacional de Comunicação?

O império ataca
Uma emissora como a Globo não dá ponto sem nó. Nenhuma campanha institucional sai dos muros do Jardim Botânico para o Brasil sem antes passar por uma extensa rede de discussão, testes e pesquisas. Assim sendo, me parece que esta campanha pode ser uma ofensiva contra um dos temas mais quentes em discussão no processo da 1ª Conferência Nacional de Comunicação: o controle social.

Talvez estejam preparando a artilharia para se armar contra o crescente reclamo da sociedade para que sejam criados mecanismos institucionais de controle social sobre a radiodifusão.

E, como a melhor defesa é o ataque, estão construindo argumentos para dizer que a sociedade já possui o melhor e mais poderoso instrumento de controle em suas salas: o controle remoto.

Não gostou? Troca
Por esta abordagem a emissora se exime de responsabilidade, já que o papel de selecionar, assistir e até mesmo de chancelar a programação cabe ao telespectador. Ou seja, não quer, não assiste. Não é bom, não assiste. É violento, não assiste. É discriminador, não assiste. É preconceituoso, não assiste. É impróprio para menores, não assiste.

Apelam ao senso comum a partir do “mude se você não está contente” e usam o artifício da liberdade para atacar as propostas de controle social, taxando-as de censura.

Liberdade para a minha empresa
“Onde já se viu querer impor qualquer tipo de fiscalização ao conteúdo do que é veiculado nos veículos? Isso é cercear a liberdade de expressão”, dizem os donos das emissoras.

Contudo, sob o guarda-chuva da liberdade de expressão, o que vemos é o exercício mais deslavado da liberdade de empresa e da falta de compromisso com a pluralidade de pontos de vista, com a diversidade social, cultural e política, com a produção independente e regional e qualquer outra forma de expressão que seja construída fora do modelo ultracentralizado de negócios que caracteriza a radiodifusão no país.

A campanha da Globo, ao meu ver, mostra que os debates da 1ª Conferência Nacional de Comunicação estão atingindo um primeiro e importante objetivo: despertar a discussão em camadas mais amplas da sociedade para os temas relativos à comunicação no país. Mais gente está se apropriando desse tema e, consequentemente, mais gente está construindo um olhar crítico sobre esse assunto.

Em tempo: No caderno de TV do Estadão deste domingo (25), uma pequena amostra dessa nova postura da audiência pôde ser vista na seção Palavra do Leitor. Foram publicadas quatro cartas de leitores do jornal falando da Rede Globo, três com viés crítico à emissora.

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