23.10.09

Uma homenagem

O belo da ciência e de sua história é que não há um ponto final e tampouco somente um ponto de partida possível para desaguar no vasto conhecimento já acumulado pela humanidade.

Muitos podem imaginar que certos temas já não merecem estudo, uma vez que consagrados e já solidificados. Mas a curiosidade científica e o olhar interessado podem sempre encontrar novas abordagens e, com isso, derrubar conceitos e pré-conceitos estratificados.

Foi um pouco isso que vi, hoje, durante a defesa da tese de doutorado de meu querido amigo Cesar Lopes “Modelos atômicos no início do século XX: da Física Clássica à introdução da teoria Quântica”.

Cesar é químico. Eu o conheci há 15 anos, durante o Encontro Nacional dos Estudantes de Química, em Goiânia. Ele da UFRGS eu da USP. Ele já era liderança e figurinha carimbada nos debates sobre o ensino de Química. Era meu primeiro encontro, mas já chegava como presidente do CA e cheia de opinião pra dar.

Nossa amizade cresceu naquele mesmo ano de 1995, quando nos encontramos no ônibus que seguia do Tietê para Caxambu, onde íamos participar da reunião da Sociedade Brasileira de Química. Lá, à beira da piscina do hotel, no teleférico, nos bares, nas palestras, conversamos tanto sobre o futuro, imaginando planos ideais e traçando metas profissionais e acadêmicas.

Naquela ocasião, essas conversas tinham um quê de desvario, de improbabilidade. Afinal, ambos éramos graduandos, jovens ainda, sonhadores. Ele se formou primeiro. Lembro-me vivamente daqueles dias em que fui a Porto Alegre para a sua formatura. Um ciclo se encerrava. Discutimos sobre o seu discurso (ele foi um dos formandos a usar a tribuna do auditório da URFGS na cerimônia), em que ele fazia a homenagem para sua vózinha querida e mantinha o olhar pregado no futuro, pela citação de Galeano – a utopia é isso, é seguir caminhando.

E seguimos. Tomei outros rumos e me distanciei da Química. Ele traçou novos objetivos. Tornou-se professor da universidade e perseguiu a carreira acadêmica. Até chegar o dia de hoje, quando recebeu da banca a nota Dez pela sua pesquisa, por sua dedicação, por sua teimosia.

Nos seus agradecimentos, ainda que para pequena plateia, não abriu mão de registrar a importância da existência de agências de fomento à pesquisa no Brasil, sem as quais seria impossível termos produção científica e pesquisadores em nosso país.

A persistência de Cesar é a mesma de tantos outros brasileiros que, não sendo da elite, lutam para conseguir um espaço no ambiente universitário.

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