1.2.10

A democracia participativa na mira da mídia

Omitida de forma deliberada pela grande mídia, as conferências setoriais realizadas pelo governo do presidente Lula já reuniram em torno de 4 milhões de pessoas. Foram cerca de 60 conferência das mais variadas áreas: saúde, segurança pública, comunicação, esportes, direitos humanos, mulheres, GLBT, juventude, igualdade racial e tantas outras.

Todas, solenemente ignoradas pela mídia. Afinal, para que alardear que há um espaço político onde as pessoas podem participar, opinar sobre as iniciativas do Estado para melhorar a sociedade?

A exceção a essa regra ficou por conta da cobertura da conferência de comunicação, que não foi ocultada pelosveículos por um simples motivo: com divergências profundas entre si, os veículos partiram para a disputa da conferência e o fizeram, de certa maneira, pelo noticiário e editoriais.

Confinado ao ostracismo ou a poucos especialistas, a conferência de comunicação abriu a tampa do debate sobre a mídia, sobre o direito humano à comunicação e mostrou que é necessário haver um espaço através do qual a sociedade possa dialogar sobre o tema.

Claro que isso incomodou os barões da mídia. O III Plano Nacional de Direitos Humanos foi bombardeado pelos veículos principalmente porque ele tocava nos interesses dos donos da mídia. Agora, é a vez da Conferência de Cultura.

Para dar lastro à ofensiva contra o governo e desqualificar as conferências como espaço de debate e participação, usam opiniões de intelectuais como a publicada neste domingo, no Estadão. Em entrevista ao jornal, o professor de ciência política Leôncio Martins Rodrigues ataca as formas de participação popular, afirmando que a democracia direta é impossível de realizar e que das tentativas de sua implantação nasceram o fascismo e outras formas de totalitarismo.

Numa visão reacionária do processo político em curso no país, acusa os partidos de esquerda de usaram os instrumentos de participação popular para impor uma hegemonia ideológica, manipulando uma minoria para dominar a maioria e afirma que “uma nova elite de origem plebeia ascendeu com o Lula”.

Os argumentos não são novos, como também não é novo o tom de raiva e desprezo com o fato de o Brasil ter sido governado por sete anos consecutivos por uma coalização política da qual participam setores oriundos do movimento social.

Ao final da entrevista, o propósito dos ataques se escancara:

Estado: “Programas nascidos das conferências nacionais têm incluído sucessivamente propostas de controle da mídia. Como o sr. reage?
Leôncio: Há uma forte tendência da esquerda em querer um controle da mídia privada. Para contrabalançar, são favoráveis a uma mídia controlada pelo Estado. Acho muito má essa ideia. Os proprietários privados não têm o poder que parecem ter. E, quando se fala em mídia estatal, ela está sob o controle de um grupo político. Não seria mau se pudéssemos ter alguma coisa como uma mídia estatal competente, como a BBC de Londres. Mas a ideia de que a imprensa privada, a mídia privada, jornais e televisão modelam o pensamento dos brasileiros é um equívoco”.

Ou seja, enquanto as conferências não estavam ameaçando os interesses da mídia não se falava delas, mesmo que elas já tocassem, de forma tangencial, em propostas para ampliar a democracia nos meios de comunicação. Mas, o cenário mudou e com ele mudou a posição da mídia.

Afinal, estamos em ano eleitoral, é preciso criar novas crises, gerar instabilidade e fazer todo o possível para evitar que o país dê continuidade ao processo político em curso e retroceder à era do governo das elites.

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