1.2.10

Uma nação sob os escombros

Não há como ficar indiferente à situação do Haiti e de seu povo. Um cenário de devastação que está chocando todo o mundo. Mas, as cenas de sofrimento e caos que estão sendo distribuídas como rastilho de pólvora por todos os meios de comunicação são o retrato extremo de uma situação que, antes do terremoto, já era de miséria e dificuldades.

O abalo da terra acabou por destroçar a nação, que agora jaz sob os escombros. Claro que uma catástrofe dessa magnitude teria impactos devastadores em qualquer lugar do mundo, mas num país marcado por profundas dificuldades sociais, políticas e econômicas como o Haiti as feridas abertas pelo terremoto demorarão muito, muito mais para serem cicatrizadas.

Além da cobertura usual que a mídia faz desse tipo de calamidade – explora-se o sofrimento individual, busca-se personagens para criar o elo afetivo que falta entre a audiência e a tragédia. Ao lado disso, um arrazoado de opiniões científicas sobre cismologia, as tecnologias para prever e prevenir terremotos e por ai vai – é preciso falar do Haiti, dos seus problemas estruturais e históricos, da luta daquele povo, porque esse é o contexto que vai determinar qual o percurso para superar a tragédia.

Nesse sentido, o artigo “O Haiti já estava de joelhos; agora, está prostrado” do antropólogo e professor da Unicamp Omar Ribeiro Thomaz, publicado hoje na Folha, é elucidador. Ele trás à tona o processo histórico que condenou o Haiti à miséria extrema. “Diante da fúria da natureza não cabe outro sentimento que o de uma frustração que deita raízes numa história profunda e que subitamente pode ganhar cor: o mundo dos brancos nos destruiu, o mundo dos brancos diz que quer fazer alguma coisa, mas o que faz, além de nutrir seus telejornais com fotos miseráveis que só fazem alimentar a satisfação autocentrada dos países ditos ocidentais?”, questiona.

Num país onde há 47,1% de analfabetos, onde a pobreza atinge 80% da população, onde 66% das pessoas dependem da agricultura para subsistência e que, agora, perdeu o seu coração, sua capital – Porto Príncipe – imagino que o sentimento é de desespero, desesperança, “de frustração sem limites, de raiva”.

Pensar no Haiti e rezar pelo Haiti não é suficiente. É preciso fazer alguma coisa pelo Haiti. Uma promessa dos organismos internacionais que até o momento não se concretizou. Quem sabe diante dessa tragédia, as intenções se transformem em ações que possam contribuir para que o povo haitiano supere esse episódio e consiga encontrar o caminho da soberania que leve o melhores condições.

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