Criar mecanismos para furar o bloqueio que a grande mídia impõe aos assuntos que envolvem as lutas dos movimentos sociais é o objetivo da criação da Rede de Comunicadores em Defesa da Reforma Agrária e contra a criminalização dos movimentos sociais. O lançamento da rede aconteceu nesta quinta-feira, 11/03, na sede do Sindicato dos Jornalistas e teve a presença de João Pedro Stédile do MST e do jornalista Paulo Henrique Amorim, um dos signatários do manifesto em defesa da Reforma Agrária que já conta com a adesão de dezenas de assinaturas.
O debate abordou o tema do agronegócio, o papel da mídia na criminalização dos movimentos sociais e foi coordenado pelos jornalistas Altamiro Borges, Verena Glass, e pelo presidente do Sindicato dos Jornalistas, Augusto Camargo.
Novo modelo agrícola
João Pedro Stédile fez um breve raio-x do agronegócio, que hoje representa uma “aliança entre os fazendeiros capitalistas e as empresas transnacionais que controlam o mercado de alimentos”, essa nova conformação, avalia, mudou a natureza da luta pela reforma agrária, que não é mais a disputa com o latinfudiário atrasado. “O que antes era a luta do pobre que queria terra, agora é uma luta de classes”.
Para o líder do MST, o lado bom dessa nova realidade é colocar para a sociedade o debate sobre a mudança do modelo agrícola, que mecaniza e desemprega, subemprega com trabalho escravo e está baseado no uso de agrotóxicos comprovadamente nocivos à saúde das pessoas.
Por tudo isso, o combate à luta pela Reforma Agrária ganha novos instrumentos. “A direita está se articulando para reprimir os movimentos com outros métodos com o objetivo de aniquilá-los. Articulados nos instrumentos que eles mais dominam: “Tribunal de Contas da União, Poder Judiciário e a mídia”, aponta Stédile.
Sobre a CPMI que pretende investigar supostos desvios de recursos por parte dos movimentos pela Reforma Agrária, Stédile foi taxativo: “Não se trata de discutir recursos públicos, até porque os recursos que nossas entidades acessam são uma merreca perto do que o agronegócio recebe. Essa é a terceira CPMI que eles instalam num período de 8 anos. Todos os nossos sigilos bancários já foram quebrados, todos nossos telefones são grampeados. Eles tiveram 8 anos para denunciar nossas supostas contas no exterior, nossas falcatruas. Não fizeram porque não encontraram nada e continuam criando CPMIs porque o objetivo deles é criminalizar os movimentos sociais. O DEM é o partido que tem sido a ponta de lança disso. O Onix Lorenzoni foi claro, disse que o que eles querem é acabar com o MST”.
Criminalização dos movimentos sociais
O jornalista Paulo Henrique Amorim começou lembrando que é alvo de 22 ações na Justiça, sendo que 9 destas são de autoria do Daniel Dantas. “Estamos vivendo uma tentativa de criminalizar em escalada tudo que tem um conteúdo político e ideológico. Para ratificar os interesses da elite brasileira, se criminaliza pessoas. Esse fenômeno da criminalização através do Judiciário é uma circunstância política nova, associada a outro, que é o de fechar a internet, busca cercear a livre manifestação. (…) Tenho orgulho de ser processado por senhores como Daniel Dantas e pelo senador Heráclito Fortes, isso é resultado da minha luta pela liberdade de expressão”.
Amorim denuncia a elite brasileira que, “com três ligações telefônicas para Tavinho (Folha), Marinho (Globo) e Mesquita (Estado) controla jornais, rádios, emissoras de televisão, revistas, agência de informação e os portais da internet”.
Para se contrapor a isso, ele receita: “temos que fazer uma resistência na internet. Não há outra forma”. Criar mecanismos de multiplicação da informação usando muito áudio e vídeo, criando botões contra a criminalização dos movimentos sociais. “O último reduto da liberdade de expressão do país é internet”, afirma.
O presidente do Sindicato dos Jornalistas falou da crise da atividade jornalística e das empresas de comunicação, mas defendeu que a necessidade do bom jornalismo e da informação não está em crise. Ele reforçou que uma frente de comunicadores não pretende reunir apenas jornalistas, mas todos os cidadãos que exercem o seu direito de expressão.
Ao final, uma série de iniciativas para envolver os comunicadores e colocar a rede em movimento foram apresentadas. Serão criados grupos para levantar dados sobre os assentamentos no país, sobre a produção da agricultura familiar e sobre o agronegócio. A rede deve lançar, na próxima semana, um blog que vai reunir todo o trabalhos desenvolvidos e ser uma fonte de informação contra a CPMI e em defesa da Reforma Agrária.
Renata,
ResponderExcluirGravei vídeos do ato, os discursos do Stédile, do PHA e do Miro.
http://tsavkko.blogspot.com/2010/03/videos-da-reuniao-da-rede-de.html