24.5.10

Folha de cara nova e ideias caducas

Lançada neste domingo, a reforma gráfica e editorial do jornal Folha de S.Paulo deixa explícita a visão anacrônica de mundo que o diário prega insistentemente em suas páginas: a defesa do mercado a partir da doutrina neoliberal e como o poder deve estar a serviço desse projeto de nação mercantil e subordinada.

A mudança do nome de alguns cadernos é mais do que emblemática da linha editorial da Folha: Brasil passa a ser Poder e Economia passa a ser Mercado. Ancorada no corolário mais opinião menos informação, o jornal tenta dar cara nova para ideias cada vez mais caducas na sociedade.

Para dar voz a essas ideias, vão acolher colunistas como o presidente da Febraban, Fábio Barbosa; enquanto executaram sumariamente talvez uma das únicas vozes dissonantes do jornal, o economista Paulo Nogueira Batista Jr.

A coluna estreante de Gustavo Cerbasi, autor dos livros “Casais Inteligentes Enriquecem Juntos” e “Mais Tempo, Mais Dinheiro” mostra que a auto-ajuda focada no conceito do sucesso é dinheiro, dinheiro é status e status se conquista consumindo dá o tom de tudo o que está na contramão da história.

Diz Cerbasi em sua coluna sobre a consagração da classe média “Quem está com sua carteira assinada pela primeira vez merece comemorar e gastar um pouco mais. Porém, não faz muito sentido gastar a ponto de arruinar o orçamento dos meses seguintes. Gaste menos do que você tem, mas gaste principalmente com o que você gosta. Celebre! Repense o tamanho da sua casa, escolha uma mais econômica, para que caibam mais prestações de coisas interessantes em seu orçamento. E, independentemente do seu estilo de gasto, faça as contas e poupe o mínimo necessário”, aconselha. Sinceramente, é de ficar boquiaberto!

Ou seja, em momento de crise econômica mundial, de discussões acirradas sobre desenvolvimento sustentável e, consequentemente, sobre consumo sustentável, a Folha inicia sua cruzada em nome do consumo desenfreado!!!! É, no mínimo, politicamente incorreto.

Análise X Opinião
A Folha diz que vai dar mais ênfase à análise que, de acordo com o jornal, é “o esforço de esclarecer o leitor sobre a importância, o contexto, a origem, as implicações e o feixe de interesses em torno de informações relevantes publicadas no jornal”. Já, a opinião, que segundo o jornal é quando o “autor se coloca, manifesta preferências e apresenta argumentos que as sustentem” aparecerá apenas pela palavra dos colunistas.

Na página on-line sobre a reforma do jornal, há um link sobre a diferença entre análise e opinião, que infelizmente está quebrado. Portanto, eu não pude me aprofundar nas digressões que a Folha faz para tentar mascarar a análise de texto imparcial. Ora, é claro que toda análise parte de um ponto de vista sobre qualquer assunto, e é, portanto, uma forma de opinião. Neste caso, claro está, a do jornal.

Furo na era da informação em tempo real
Outro elemento que está destacado como central no fazer jornalístico da nova Folha é a prioridade para os furos. Fico imaginando como tais furos serão conseguidos e quais. É mais que sabido que a internet se não acabou, reduziu drasticamente o furo, aquela notícia que só o seu jornal tem e vai divulgar em primeira mão. Mas, se as notícias exclusivas estão escassaz, então o jeito é produzi-las, como no caso da ficha policial da Dilma durante a ditadura militar.
O slogan “Folha_o jornal do Futuro” só me dá uma certeza: esse futuro que a Folha quer para o Brasil eu não quero, e os brasileiros também não.

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