Tem umas doenças que são bem danadas. Às vezes elas estão latentes, quietinhas, a gente nem percebe que existem, mas basta uma oportunidade e elas se manifestam. Isso vale para as doenças e para o preconceito.
Silvio de Abreu deu mostras disso na sua lamentável entrevista à Folha de S.Paulo, para a coluna da Mônica Bergamo de quarta-feira. Num desfile de bobagens e preconceitos, ele diz que o ator que se assumir gay é bobo.
Reproduzo e comento algumas partes da entrevista de Silvio de Abreu:
Folha: Um ator que se assumisse homossexual teria dificuldade?
S.A: Se o ator, digamos assim, vive de fazer tipo, não tem problema. Ele vai poder fazer o tio, o pai, o aleijado, o bobo. Mas se ele vai ser o sonho de amor das telespectadoras, ou a moça que vai ser o sonho de amor do telespectador e ela diz: “Eu sou lésbica”, ninguém vai gostar. Ninguém mais vai sonhar com ela.
Ou seja, gay só pode se o personagem for caricato. Porque no imaginário distorcido pelo preconceito, gays e lésbicas são pessoas esteriotipadas, que têm um carimbo na testa. Pior ainda, ser gay ou lésbica atrapalha a atividade profissional do ator. E tem mais:
Folha: Mesmo um bom ator?
S.A: Se ficarem falando por trás, não tem importância. Se ele falar abertamente, vai prejudicar. Daí você vai me dizer: “O público gay vai gostar”. Mas o público gay é 10%. A mulher é 40%, ou sei lá quanto, mais ou menos isso. Ator que fizer isso é bobo.
Ah! é, tem o ator que vive do seu sexy apeal, esse dizer que é gay, nem pensar. Pois vou dizer uma coisa ao senhor Silvio de Abreu, duvido que o cantor Ricky Martin tenha deixado de povoar o imaginário feminino por ter assumido sua homossexualidade. Ele continua lindo, belo, formoso e sexy!!!!! E se os atores e atrizes homossexuais daqui e que são considerados símbolos sexuais saíssem do armário, como se diz por ai, não acho que seria diferente. Não vou dizer nomes, porque acho que o leitor já imagina quem são. Fica aquela história: eu sei que você sabe, você sabe que eu sei que você sabe, mas ninguém fala sobre o assunto. Mas Silvio de Abreu diz mais:
Folha:A Globo vetou um beijo gay em “América”.
S.A: Homossexualismo não é mais tabu. Beijo gay é outra história. É uma exposição que grande parte do público que não é gay pode se chocar.
No pensamento torto do escritor de novela, homossexualidade não é mais tabu, mas beijar não pode, “o público que não é gay pode se chocar”. Então, senhor Silvio, onde que não existe mais tabu? Ou só vale o já conhecido: o que os olhos não veem o coração não sente!
Se isso não é preconceito é o que, então? Na verdade, a declaração me pareceu mais uma ameaça aos atores e atrizes do que um conselho. Ou seja, não assuma, porque se você assumir não vai ter mais papel nas minhas novelas e em outros programas da Globo.
Olá Renata,
ResponderExcluirtenho acompanhado o seu blog e gosto muito. Caso você queira dar uma uma olhada no meu e se tornar também uma seguidora aqui vai: www.contraevidencia.blogspot.com
Saudações contra hegemônicas!