No início do século XIX, o surgimento dos folhetins foi uma alavanca para popularizar os primeiros jornais. Eram publicações em série, como novelas, que fidelizavam o público ávido por saber o que iria acontecer no próximo capítulo.
Parece que estamos vivendo o mesmo. Os jornais impressos,
diante de sua crise existencial imposta pelo surgimento das novas tecnologias,
abandonam qualquer compromisso com o jornalismo – que já era pouco mesmo antes,
diga-se de passagem – para sobreviver de factóides publicados à exaustão.
Não importa o tema, mas tanto melhor quando ele coincide com
os interesses políticos e econômicos dos barões da mídia. É o que estamos
vivendo atualmente com o bombardeio contra o PCdoB, que tem como foco o
ministério do Esporte, particularmente o atual ministro Orlando Silva.
Tenho acompanhado, enojada, as manchetes folhetiniscas que
se sucedem diariamente, há pouco mais de uma semana. É revoltante e me faz
lembrar a estrofe de um poema visionário do saudoso Drummond de Andrade chamado Nosso Tempo:
Tenho palavras em mim buscando canal,
São roucas e duras,
Irritadas, enérgicas,
Comprimidas há tanto tempo,
Perderam o sentido, apenas querem explodir.
A mídia e os interesses que ela representa nada têm em comum
com os objetivos do governo brasileiro desde que o País está sob o comando de
novas forças políticas, que elegeram Lula por dois mandatos e agora Dilma. Os
barões midiáticos e as elites nacionais estão descontrolados por terem perdido,
ainda que parcialmente, o direito de mandar e desmandar nos rumos do Brasil.
As sórdidas campanhas de desestabilização de Lula e Dilma se
sucedem como tentativas desesperadas para tirar o foco da realidade: redução de
desigualdades sociais e regionais com a elevação da renda de milhões de
brasileiros, conquistada por políticas públicas e por uma política nacional de
desenvolvimento que possibilitou ao país ter crescimento econômico e social.
São milhões de pessoas que ingressaram na Classe C, que
passaram a ter possibilidades de vida mais digna, que estão aquecendo a
economia. São milhões de jovens que pela primeira vez na história tiveram a
possibilidade de ingressar no Ensino Superior pelas mãos de políticas de
democratização do acesso, como o ProUni. São milhares de pessoas que saíram da
escuridão, pelas mãos do Estado brasileiro que realizou um dos mais importantes
programas sociais que foi o Luz para Todos. Milhares de brasileiros mataram a
sede com o programa do governo federal de construção de cisternas. E, no
Esporte, milhares de crianças tiveram a oportunidade de sair das ruas graças a
programas de inclusão como o Segundo Tempo. Centenas de novos atletas receberam incentivos, e que estão trazendo importantes frutos para o esporte brasileiro neste Pan-Americano.
Por isso, as elites e a mídia tremem e não vão descansar até
solapar este novo rumo que o Brasil está seguindo.
O PCdoB é parte desse projeto desde o início. E, agora, é o
alvo da vez para desestabilizar o governo Dilma. Mas não é só isso. É um
partido que cresce em todo o Brasil e desponta com lideranças importantes para
ocupar funções públicas estratégicas em várias cidades e estados. Outra
ousadia, que para a mídia e para as elites é inadmissível. Imagine os comunistas
elegerem prefeituras em capitais importantes como Porto Alegre, São Luiz,
Salvador. Terem candidatos competitivos em estados como Acre, Amazonas, São
Paulo.
Mudam os personagens, mas a novela é a mesma. O roteiro dos
folhetins tem um objetivo central – mostrar que eles têm o poder de governar o
País. Tentaram com Lula, mas a personalidade e autoridade do operário que, a
sua maneira, transformou a realidade de milhares de brasileiros foram maiores
que a mídia. Agora tentam com Dilma, e
apostam no fato de ela não ter a mesma densidade política de seu antecessor.
Podem dar com os burros n’água.
Os veículos dessa velha elite se orgulham e vangloriam ao
dizer que em 10 meses de governo já derrubaram 6 ministros (contanto com a
saída de Orlando). E já apontam suas bazucas contra o próximo alvo, o minsitério do Trabalho. A
mesma novela, o mesmo enredo e o mesmo objetivo.
Dilma deveria se mirar no exemplo de sua colega e vizinha,
Cristina Kirchner, que teve a coragem de enfrentar os barões midiáticos
argentinos e não se curvou à chantagem da mídia. Foi reeleita.
Liberdade de expressão e o direito à comunicação e à
informação são questões fundamentais em qualquer sociedade democrática. Mas
nenhum desses jornais – que devassam e destroem sem pudor a vida das pessoas – defendem
qualquer um destes valores. O que eles defendem – e por isso são tão ferozes
contra os que lutam para que o país tenha um marco regulatório para as
comunicações – é a liberdade de empresa para poderem continuar praticando um
jornalismo folhetinisco, estampando manchetes sem compromisso com fatos
existentes, sem ética e moral.
Em meio aos ataques de que está sendo alvo, Orlando Silva
disse que “estão tentando tirar um ministro no grito”. Ele está errado. Na
verdade eles (a mídia e as elites) estão tentando governar o país no grito e
para isso atacam tudo que aparece pela frente.
Voltando a Drummond, diante de tanta arbitrariede
Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!
Mas eu não sou as coisas e me revolto.
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