26.10.11

Nosso Tempo – O jornalismo acabou, virou um folhetim


No início do século XIX, o surgimento dos folhetins foi uma alavanca para popularizar os primeiros jornais. Eram publicações em série, como novelas, que fidelizavam o público ávido por saber o que iria acontecer no próximo capítulo.

Parece que estamos vivendo o mesmo. Os jornais impressos, diante de sua crise existencial imposta pelo surgimento das novas tecnologias, abandonam qualquer compromisso com o jornalismo – que já era pouco mesmo antes, diga-se de passagem – para sobreviver de factóides publicados à exaustão.

Não importa o tema, mas tanto melhor quando ele coincide com os interesses políticos e econômicos dos barões da mídia. É o que estamos vivendo atualmente com o bombardeio contra o PCdoB, que tem como foco o ministério do Esporte, particularmente o atual ministro Orlando Silva.

Tenho acompanhado, enojada, as manchetes folhetiniscas que se sucedem diariamente, há pouco mais de uma semana. É revoltante e me faz lembrar a estrofe de um poema visionário do saudoso Drummond de Andrade chamado Nosso Tempo:

Tenho palavras em mim buscando canal,
São roucas e duras,
Irritadas, enérgicas,
Comprimidas há tanto tempo,
Perderam o sentido, apenas querem explodir.

A mídia e os interesses que ela representa nada têm em comum com os objetivos do governo brasileiro desde que o País está sob o comando de novas forças políticas, que elegeram Lula por dois mandatos e agora Dilma. Os barões midiáticos e as elites nacionais estão descontrolados por terem perdido, ainda que parcialmente, o direito de mandar e desmandar nos rumos do Brasil.

As sórdidas campanhas de desestabilização de Lula e Dilma se sucedem como tentativas desesperadas para tirar o foco da realidade: redução de desigualdades sociais e regionais com a elevação da renda de milhões de brasileiros, conquistada por políticas públicas e por uma política nacional de desenvolvimento que possibilitou ao país ter crescimento econômico e social.

São milhões de pessoas que ingressaram na Classe C, que passaram a ter possibilidades de vida mais digna, que estão aquecendo a economia. São milhões de jovens que pela primeira vez na história tiveram a possibilidade de ingressar no Ensino Superior pelas mãos de políticas de democratização do acesso, como o ProUni. São milhares de pessoas que saíram da escuridão, pelas mãos do Estado brasileiro que realizou um dos mais importantes programas sociais que foi o Luz para Todos. Milhares de brasileiros mataram a sede com o programa do governo federal de construção de cisternas. E, no Esporte, milhares de crianças tiveram a oportunidade de sair das ruas graças a programas de inclusão como o Segundo Tempo. Centenas de novos atletas receberam incentivos, e que estão trazendo importantes frutos para o esporte brasileiro neste Pan-Americano.

Por isso, as elites e a mídia tremem e não vão descansar até solapar este novo rumo que o Brasil está seguindo. 

O PCdoB é parte desse projeto desde o início. E, agora, é o alvo da vez para desestabilizar o governo Dilma. Mas não é só isso. É um partido que cresce em todo o Brasil e desponta com lideranças importantes para ocupar funções públicas estratégicas em várias cidades e estados. Outra ousadia, que para a mídia e para as elites é inadmissível. Imagine os comunistas elegerem prefeituras em capitais importantes como Porto Alegre, São Luiz, Salvador. Terem candidatos competitivos em estados como Acre, Amazonas, São Paulo.

Mudam os personagens, mas a novela é a mesma. O roteiro dos folhetins tem um objetivo central – mostrar que eles têm o poder de governar o País. Tentaram com Lula, mas a personalidade e autoridade do operário que, a sua maneira, transformou a realidade de milhares de brasileiros foram maiores que a mídia.  Agora tentam com Dilma, e apostam no fato de ela não ter a mesma densidade política de seu antecessor. Podem dar com os burros n’água.

Os veículos dessa velha elite se orgulham e vangloriam ao dizer que em 10 meses de governo já derrubaram 6 ministros (contanto com a saída de Orlando). E já apontam suas bazucas contra o próximo alvo, o minsitério do Trabalho. A mesma novela, o mesmo enredo e o mesmo objetivo.

Dilma deveria se mirar no exemplo de sua colega e vizinha, Cristina Kirchner, que teve a coragem de enfrentar os barões midiáticos argentinos e não se curvou à chantagem da mídia. Foi reeleita.

Liberdade de expressão e o direito à comunicação e à informação são questões fundamentais em qualquer sociedade democrática. Mas nenhum desses jornais – que devassam e destroem sem pudor a vida das pessoas – defendem qualquer um destes valores. O que eles defendem – e por isso são tão ferozes contra os que lutam para que o país tenha um marco regulatório para as comunicações – é a liberdade de empresa para poderem continuar praticando um jornalismo folhetinisco, estampando manchetes sem compromisso com fatos existentes, sem ética e moral.

Em meio aos ataques de que está sendo alvo, Orlando Silva disse que “estão tentando tirar um ministro no grito”. Ele está errado. Na verdade eles (a mídia e as elites) estão tentando governar o país no grito e para isso atacam tudo que aparece pela frente.

Voltando a Drummond, diante de tanta arbitrariede

Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!
Mas eu não sou as coisas e me revolto.

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