20.8.12

Basta, o desabafo aristocrático de Pondé


Em sua coluna desta segunda-feira, 20, na Ilustrada, o sr. Luiz Felipe Pondé afirma não acreditar em motivações ideológicas para nada. Estranho, pois o artigo Basta é uma ode à ideologia burguesa em sua roupagem mais aristocrática.

Deselegante, como todo aristocrata, destila sua arrogância intelectual em nome dos interesses de sua classe. Sem preocupação alguma em fundamentar com argumentos suas opiniões, usa ataques baixos para rotular conquistas que a sociedade demorou séculos para alcançar, como o direito das mulheres a serem mais do que reprodutoras e cuidadoras e ocuparem um espaço no mercado de trabalho.

Do alto de sua pose intelectual e entre baforadas do seu cachimbo, faz um ataque desqualificado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa, organismo que tem procurado conduzir sua atuação pautado pelos interesses da população e em consonância com práticas e estudos internacionais que mostram, por exemplo, como orientar o consumo de alimentos e medicamentos visando o bem-estar e a saúde da população.

Critica a iniciativa da Anvisa em exigir receita médica – o que já deveria ser feito – para comprar medicamentos com tarja vermelha. Mas, espere um pouco, o que vem escrito dentro desta tarja, alguém já parou para ler? VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. O que a Anvisa pretende é apenas fazer valer uma regra que já existe e que visa a proteção do usuário do medicamento.

Pondé classifica a medida como “uma das pragas contemporâneas”, chama os técnicos da Anvisa de tecnocratas e diz que eles “se masturbam à noite sonhando como vão controlar a vida dos outros em nome da saúde pública”.

As afirmações do jornalista deixam claro que ele precisa ajustar o grau dos óculos para enxergar a realidade. Imagino que para um dito intelectual não faltem informações sobre os riscos da automedicação, esta sim uma das pragas contemporâneas alimentadas pela indústria farmacêutica e por boa parte dos estabelecimentos que vivem da sua venda. Dados do Sistema Nacional de Informações Toxicológicas – Sintox, de 2009, mostram que 26,47% das intoxicações registradas no país foram caudas por medicamentos. Não há dados sobre a distribuição destas ocorrências por renda, mas não seria surpresa se a população mais atingida por esta “praga capitalista” fosse a de mais baixa renda.

Então, o que o Sr. Pondé chama de controlar a vida dos outros, eu chamo de preservar a saúde. E viva a possibilidade do contraditório. Para sermos mais democráticos, seria ótimo se minha humilde opinião pudesse também ser publicada em um jornal de grande circulação como a Folha de S.Paulo, possibilitando, assim, que seus leitores tivessem dois pontos de vistas diversos a partir dos quais pudessem construir suas próprias opiniões.

Mas não é só sobre medicamento que o Sr. Pondé emitiu sua douta opinião. Ele atacou também as cotas nas universidades e a campanha pela proibição de publicidade para crianças.

Sobre as cotas, sem dúvida que é contra, mas para os pobres ele as admite em “alguma pequena porcentagem, vá lá”, como alguém que engole um remédio amargo (tarja vermelha!).

Mas o machismo aristocrata que corre no sangue azul de Pondé ficou aflorado mesmo quando ele se contrapôs à proibição da publicidade infantil. No estilo Tradição, Família e Propriedade ele condena a mãe por todos os males que possam atingir as crianças.

Afinal, afirma, “todo mundo sabe que, quanto menos a mãe está em casa e quanto mais ela é só e menos tempo tem para a criança, mais a criança come porcaria”. E seguindo este raciocínio brilhante, ele afirma que a escola pública precisa existir “para preencher o vazio de famílias que não cumprem sua função”.

Para a aristocracia masculina que Pondé representa, a pior praga contemporânea é a existência de uma sociedade de direitos, aonde a mulher tem conquistado posições antes apenas reservada aos homens. Aonde a mulher pode destacar-se como profissional e cidadã, ocupando espaços de poder em grandes empresas, no Estado e dentro de casa.

Tal avanço democrático implica, necessariamente, numa reformulação dos papéis de cada um dentro da família. E isto impacta, principalmente, no comportamento masculino. Tarefas cotidianas da casa e do cuidado com os filhos passam a ser dividas e isso para o Sr. Luiz Felipe Pondé é o sinal dos tempos. Imagine o homem limpando um banheiro, lavando louça, trocando uma fralda.

“Os mesmos que gozam pensando em mandar na vida dos outros são os que mentem quando não dizem que as crianças comem porcaria porque ficam largadas em casa sem mãe para tomar conta delas”, constata Pondé para mais a frente concluir: “Os mesmos que cospem na cara da família como instituição, estimulam as mulheres a pensarem só em si mesmas e acusam a família de ser autoritária são os que pedem a proibição da publicidade infantil”.

A sociedade é um espaço de conflitos entre o velho e o novo. Entre os que lutam para defender com unhas e dentes o status quo e os que querem transformações. O Sr. Pondé representa o primeiro grupo, que vê seu poder sendo reduzido quando o país elege um operário e uma mulher para presidir a República, que sofre de urticária quando medidas em prol do desenvolvimento nacional e da inclusão social são adotadas para reduzir as desigualdades (afinal a sua classe vive e se alimenta delas).

Felizmente, o sr. Pondé sabe disso e usa todas as suas armas para evitar que seu pensamento seja superado. O que talvez ele não saiba, ou não tenha percebido, é que a sociedade já o está superando.



14 comentários:

  1. Anônimo1:42 PM

    Sua opinião não serve pra nada!

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  2. Imagino que a sua, postada anonimamente, sirva muito.

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    1. ideologia burguesa? Burguesia? Em que século você vive? Só falta daqui a pouco você começar a pregar a luta de classes.

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    2. Anônimo9:46 AM

      O século que repete a dominação de uma casta, embora envelhecida e superada, mas, que, se perpetua no "comando das coisas" há pelos menos cinco mil anos. Está bom pra você? Só um completo idiota não enxergaria isso.

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  3. "Mas, espere um pouco, o que vem escrito dentro desta tarja, alguém já parou para ler? VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA."

    Foi exatamente isso que pensei quando li o texto do Pondé. E o machismo também é algo que chamou a atenção.

    Parabéns pelo texto, Renata Mielli.

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  4. Outras coisas, digamos assim, "estranhas" no texto do Pondé:

    - Os impostos dos negros, pobres e minorias também pagam a universidade pública.

    - Educação básica é, também, e principalmente, responsabilidade do estado e municípios.

    - Impressionante como a palavra fascismo é banalizada hoje em dia.

    - Coisa sem sentido: "Aldous Huxley ("Admirável Mundo Novo"), George Orwell ("1984") e Ayn Rand ("A Revolta de Atlas") deveriam ser adotados em todas as escolas para ensinar o que os professores não ensinam e deveriam ensinar: que o fascismo não morreu. "

    Enfim, ele deve ganhar muito para escrever essas coisas em um jornalão.

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  5. Anônimo9:59 PM

    esse cara é um completo imbecil, não merece seu comentário... ele que fique falando merda sozinho (quer dizer, pro publico imbecil dele).

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  6. Mas de vez em quando a gente precisa polemizar com estas pessoas, pq infelizmente eles têm a vitrine da grande mídia para espalhar esse tipo de visão elitista e reacionária.
    Abçs

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  7. Bom seu comentário. Ontem, quis comentar, mas pensei comigo: gastar meu português com isso! Ele destila uma raiva, como daqueles coronéis velhos que percebe que seu poder acabou. Eu gostaria de saber da opinião do novo (velho) filósofo (argh vou gorfar) - sobre a Lei do Boi - uma lei que se o filho de um dono de terras fosse fazer vestibular em algumas áreas (agronomia, veterinária, etc) ganhavam pontos a mais - somente por o pai ter terras (?). Vigorou anos, sem ninguém (da direita) ser contra...Isso não era Cota? - Ou só vale p Casa Grande?

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  8. Adir Claudio Campos12:59 AM

    Renata,

    Não li esse texto, mas conheço a coluna do Pondé. Acho o cara muito ruim para ser filosófo, pois em geral os filosófos legítimos, em razão da árdua luta das idéias abstratas, costumam ser mais generosos mesmo quando são provocativos, coisa que o Pondé não alcança, e até deprecia a filosofia, pois suas provocações são apenas pirotecnia para agradar o dono jornal e seu séquito, que expõe na vitrine do jornal outros colunistas de perfil semelhante - embora menos grosseiros, talvez - mas todos com o fim de confirmar, por uma ilusória variedade de opinões, o mesmo pensamento fundamental, fundado na ideologia dominante, que se torna diante da atual crise mundial do capitalismo, um conjunto de idéias cada vez mais irracionais e incapazes de convencer quem tem um mínimo de capacidade de refletir, coisas que esses picaretas da Folha, Veja, Estadão, decididamente não tem.

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  9. razumikhin11:48 AM

    "Todas as experiências de socialismo foram terríveis, muito piores que o capitalismo."

    Renata, adivinhe quem disse a frase acima. Foi Olavo de Carvalho, FHC, Bush, Hitler, Garrastazu Médici ou Paul Singer.

    Quem apostou no "impossível" acertou: o autor é o intelectual e ideólogo da esquerda basileiro, professor da USP e amigo de Lula.

    Duvida? Confirme:
    http://www.youtube.com/watch?v=Nl5L_oVltAE
    depois de 01h e 23min de entrevista


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  10. Renata,

    Descobri seu blog meio por acaso. Por sinal, procurando uma crítica ao Pondé (já que tive uma amiga que leu um livro dele e achou um máximo, e isso me deixou horrorizada!rs). O que me mostra que ele pode servir pra algo de bom!rs Bem, o Pondé pra mim é a prova de que quando você é um cretino, não importa o seu grau de instrução, você pode ler tudo o que puder pra jogar babaquice ao ar. É o que ele faz. Cita um escritor ou filósofo no seu texto pra corroborar com seus preconceitos. Se você achou esse texto machista, já leu o que ele começa citando Nelson Rodrigues?
    Enfim, minha única ressalva é quanto à decisão da Anvisa. Tem esse post muito bom do mulher alternativa argumentando o pq a venda de remédios tarja vermelha (como a pílula do dia seguinte, por exemplo), seria um problema pra quem não tem o acesso rápido de um plano de saúde:
    http://www.mulheralternativa.net/2012/09/tarja-vermelha.html
    Mas convenhamos, falar que a anvisa é facista? Hum...
    De resto, só tenho a concordar.

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  11. Renata, parabéns pelo texto que desmascara este imbecil prepotente e arrogante, que há tempos perdeu o contato com a realidade e reside com outros hipócritas em uma miniatura da Ilha de Caras, imersos em um caldo de mediocridade disfarçada de intelecto.
    Segue o link de um texto com seu mais novo e infeliz disparate...

    http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/1187356-guarani-kaiowa-de-boutique.shtml

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