A plenária do Fórum
Nacional pela Democratização da Comunicação – FNDC – que
aconteceu entre 25 e 27 de abril, apontou que é preciso unidade,
mobilização social e muita pressão sobre o governo para
democratizar a comunicação.
O tema escolhido para a
plenária foi Democratizar a democracia. Mas será que esta “palavra
de ordem” faz sentido? E o que a comunicação tem a ver com
isso? Vamos um pouco à história:
Um país chamado Brasil
Era uma vez um país
chamado Brasil. Sua certidão de nascimento data de 22 de abril de
1500, mas é difícil precisar ao certo sua idade. Destes 514 anos, o
Brasil foi durante 322 uma colônia da monarquia portuguesa.
Democracia não havia por aqui, não senhor, muito menos imprensa
livre e liberdade de expressão.
Quando a família real precisou
fugir de Portugal, em 1808, e ancorou em terras brasileiras, o rei
resolveu autorizar a criação de universidades e também do primeiro
jornal.
Catorze anos depois, em
07 de abril de 1822, o filho do rei declarou a independência do
Brasil. De colônia a Império, o imperador não era mais o rei de
Portugal, mas o filho do rei de Portugal. E assim foi por longos 67
anos. Democracia não tinha não senhor, mas apesar das restrições
existentes a imprensa começou a crescer com jornais e panfletos se
espalhando pelo Brasil.
Daí, em 1889, um certo
Marechal Deodoro da Fonseca proclamou a República. Em 1891, este mesmo Marechal foi eleito o primeiro presidente
do Brasil, ainda de forma indireta, com 234 votos. Eleição direta
só em 1894, mas apenas homens ricos e alfabetizados podiam votar. Em
1932 a mulher conquistou o voto. E só com a Constituição de 1988
os analfabetos tiveram esse direito reconhecido.
Em 2014 completamos 125
anos de República, que foi governada por 34 presidentes, dos quais
10 foram militares. Foram duas ditaduras (reconhecidas como tal). A
que vai de 1930 a 1945 e depois entre 1964 e 1985. Como se pode ver,
democracia no Brasil é coisa breve, rara e também muito frágil.
Isso porque o Estado
ainda deve à sociedade o enfrentamento de várias agendas
fundamentais para aprofundar a democracia. Estas podem ser resumidas
em 5 reformas democráticas e essenciais: a Reforma Política, a
Reforma Urbana, a Reforma do Judiciário, a Reforma Agrária e a
Democratização dos Meios de Comunicação. Além destas reformas,
garantir direitos básicos como Educação e Saúde para todos os
brasileiros é determinante para que possamos estufar o peito e
dizer, sim, habemus democracia. É neste ponto da história que estamos nós.
De volta à comunicação
No caso dos meios de
comunicação, é preciso enfrentar de uma vez por todas os entraves
que impedem a garantia da pluralidade e diversidade. Nossa
Constituição determina que o Brasil é um país que se guia pela
liberdade de expressão. No entanto, ao longo do zig-zag histórico
que alterna democracias e ditaduras, a censura e o monopólio gozaram
de guarida em praticamente todos os períodos. Em alguns de forma
mais disfarçada, em outros de forma mais escancarada.
E, como o Brasil vive
em um Estado Democrático de Direito, o movimento social criou grande
expectativa em torno desta agenda quando Lula assumiu a presidência.
Isso porque pela primeira vez em 500 anos o país passava a ser
governado por forças políticas oriundas do movimento popular e com
compromisso democrático.
Mas, para nossa
decepção, a história não foi bem essa. E como vimos antes, mudam
as pessoas, mudam os grupos políticos, mas os interesses privados
que orientam a elite econômica brasileira e internacional não
permitiram avanços mais profundos.
Principalmente numa conjuntura na qual o governo abdicou de construir uma narrativa do contexto político, econômico, social e cultural diferente da que fazem os meios de comunicação hegemônicos. Com isso, o governo se omitiu de fazer a disputa de ideias na sociedade e criar um polo de forças mais progressista na sociedade.
E aí a história se
desenrola: primeiro um romance entre governo e grandes meios de
comunicação, depois uma pequena separação – que permitiu a
realização da 1ª Confecom e em seguida de iniciativas internas do
governo Lula para elaborar uma proposta de marco regulatório. Só
que o governo de Lula acabou, e veio a nova presidenta, Dilma
Rousseff. Governo novo, namoro novo. O romance com a mídia foi
reatado e a proposta de marco regulatório foi trancada dentro de
uma gaveta a sete chaves. Ficou o discurso do controle remoto e da regulação como censura.
Em 2014 vamos mudar o
rumo dessa história
Então, diante da
inanição do governo, o movimento social se organizou para elaborar o
Projeto de Lei de Iniciativa Popular para uma comunicação democrática. Colocou o bloco na rua e iniciou a coleta de assinaturas.
Os movimentos que lutam
pela democratização da comunicação intensificaram a mobilização e
a pressão para que esta pauta aparecesse com prioridade – seja nos
movimentos sociais, seja no governo. E em ano eleitoral, o tom da
pressão precisa e vai subir.
Esta foi a decisão da
Plenária do FNDC, que aconteceu em Guararema. Vamos potencializar o
trabalho com o PLIP e conseguir 1 milhão e 300 mil assinaturas para
garantir, pelas mãos da sociedade, que esta discussão aconteça no
Congresso Nacional. E, de outro lado, caminhando junto com esta
iniciativa, vamos pressionar o governo para que o Estado brasileiro
avance e assuma a sua responsabilidade em realizar este debate de
forma pública.
Entre as decisões da
plenária, uma resolução importante selou a unidade das várias
organizações presentes e definiu que o FNDC “vai
entregar aos candidatos à presidência da República, ao Senado
Federal e à Câmara dos Deputados um documento que apresente a luta
por um novo marco regulatório da comunicação e resgate os vários
momentos de debate e elaboração de propostas e plataformas, como a
1ª Confecom - Conferência Nacional de Comunicação, que elaborou mais de 670 propostas de políticas para a
comunicação, e os 20 pontos para uma comunicação democrática,
que resultaram no Projeto de Lei de Iniciativa Popular (PLIP). Este
documento também fará referência às iniciativas internacionais de
regulação da comunicação. A este documento serão anexados o
Projeto de Lei de Iniciativa Popular para a Comunicação Social e os
20 pontos para uma comunicação democrática”.
O
FNDC acerta ao cunhar a bandeira “Democratizar a democracia”,
porque sem comunicação democrática a democracia fica
capenga.
Os próximos capítulos
desta história ainda estão por ser escritos. Com o nosso
protagonismo podemos definir o rumo que ela vai tomar. Já
conquistamos algumas vitórias importantes, como a Lei do Marco Civil
da Internet. Com unidade e mobilização poderemos conquistar muito
mais.
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