Como a cobertura da mídia esvazia o debate político
No modelo de democracia representativa que vivemos no Brasil
é assim: a cada dois anos, durante aproximadamente 90 dias, a campanha
eleitoral ocupa uma parcela considerável do debate na sociedade.
Mas o que se discute mesmo? Toda generalização é o que é,
uma generalização, portanto, há exceções. Mas, no geral e infelizmente não
se discute nada de produtivo. E a
cobertura que a grande mídia faz das eleições é a grande responsável pela
despolitização e esvaziamento do que deveria ser o foco principal do debate:
propostas e projetos para o país.
A ênfase da cobertura é majoritariamente a dos bastidores
dos candidatos, reforçando ainda mais a cultura da política pessoalizada. A
espetacularização da notícia não é atributo apenas da cobertura policial. A
notícia espetáculo, na cobertura política, também é trunfo do pseudo-jornalismo
praticado por uma mídia que se comporta como partido, que tem interesses
econômicos e políticos que precisam ser preservados e, portanto, devem estar
acomodados nos corredores palacianos Brasil afora.
Sob a cortina de fumaça de estar cumprindo a “missão” do
jornalismo de ser um fiscal do povo, essa mídia hegemônica atua como 4º poder
produzindo manchetes-denúncia. Sob o pretexto de informar, vasculham a vida
privada das pessoas, publicam manchetes explosivas, sejam elas comprovadas ou
não. Dizem eles em seu favor: Quem se importa? Afinal, estamos cumprindo nosso
papel. Os que se sentirem lesados que se defendam depois e provem o contrário. Muito conveniente.
A prática inverteu a lógica do Direito que diz que todos são
inocentes até que se prove o contrário. A nossa mídia inaugurou uma nova regra,
válida para qualquer um: “todos são culpados até que se prove o contrário”.
Essa tônica da cobertura aumenta muito em dimensão durante o
período eleitoral. Primeiro e principalmente porque não há interesse da mídia
de discutir projetos e propostas, segundo porque não sobra espaço –
literalmente porque este é limitado na comunicação, exceto na internet – para outro
tipo de abordagem na cobertura.
Ah, claro, há os debates com os candidatos, as sabatinas nos
jornais, entrevistas. Tá certo. Mas eles representam que porcentagem da
cobertura?? A audiência dos debates é cada vez menor, até porque eles também se
adaptaram a lógica do ataque e da defesa, da denúncia, e pouco ou quase nada de
proposta é de fato discutido nestes espaços.
Mostrar com isenção o que avançou no Brasil, fazer
comparativos e contextualizar as políticas adotadas, oferecendo à sociedade
informação para que cada um possa construir uma visão crítica de país e, a
partir da realidade olhar as propostas de cada candidato e avaliar quais as
adequadas para se avançar mais, é algo que lamentavelmente não se pode esperar
da grande mídia. O que torna ainda mais
relevante uma discussão ampla sobre a comunicação que temos e a que gostaríamos
e poderíamos ter para avançar na democracia brasileira.
Mas isso, que deveria ser um tema estratégico, praticamente não consta da proposta de nenhum candidato, então, nem há o que noticiar, já
que a comunicação continua sendo um não tema, uma não notícia.
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