Começou a campanha e a cobertura dos bastidores e ti-ti-tis
das candidaturas já tem seu lugar de honra na mídia. E, neste quesito, os
holofotes estão todos direcionados para o que acontece no comando da
candidatura que a mídia quer, a tudo custo, derrotar: a de Dilma Rousseff.
A afirmação pode soar estranha aos que teimam em acreditar
que a imprensa é neutra e busca apenas
noticiar os fatos com imparcialidade. Então vamos lá: sim a mídia tem candidato
e tem adversário. Na sua cobertura, busca explorar os lados positivos do
primeiro e desestabilizar no que for possível o segundo.
Entre muitos, um dos aspectos que fazem a mídia odiar Dilma
Rousseff é o fato de o seu partido e setores de esquerda defenderem a
necessidade de haver mecanismos democráticos e republicanos de regulação dos
meios de comunicação, mesmo que a candidata não abrace esta bandeira. Ainda
assim, é melhor enfraquecer e isolar os que defendem esta proposta dentro da campanha. Daí as
notícias nos últimos dias dando conta de rusgas no comando envolvendo o
ex-ministro da Secom do governo Lula, Franklin Martins, por causa de um post nas redes sociais da campanha criticando a CBF. Será que é isso mesmo, ou será que a mídia quer criar uma crise para isolar o jornalista por outros "pecados cometidos". Aposto na segunda hipótese.
1º pecado capital – deixou de defender a “corporação”
O jornalista Franklin Martins deixou a algum tempo de ser
chamado como “coleguinha” nos círculos de sua categoria profissional. Afinal,
ele cometeu um pecado capital, imperdoável: mudou de lado, ou pelo menos os
ex-colegas e principalmente os patrões de seus ex-colegas pensam assim.
Quando foi convidado para fazer parte do governo do
ex-presidente Lula, Franklin Martins era um jornalista com larga passagem pelos
principais veículos de comunicação do Brasil (Globo, Band, Revista Época). No
início, seus colegas pensaram que a indicação fazia parte do “acordo tácito”
com o governo de não mexer na pauta da Comunicação e manter os privilégios
milionários dos veículos privados no recebimento das verbas publicitárias do
governo.
O problema é que, em certa altura do campeonato, parte do
governo percebeu que era preciso avançar no debate sobre a Comunicação. E um
aliado fundamental neste sentido foi exatamente o ministro Franklin Martins. O
jornalista cruzava uma linha que o colocaria como inimigo número 1 das
corporações privadas de mídia no Brasil.
2º pecado capital – criar a TV Brasil
Reinando única e faceira no país, a comunicação privada
constituiu um monopólio sem paralelos internacionais na produção e difusão da
notícia. No Brasil não há campo público de comunicação expressivo. Por décadas, ele se resumiu às emissoras educativas nos estados, via de regra sob o comando
político do governo de plantão.
Tal cenário é claramente uma distorção e um atentado contra
as diretrizes constitucionais que determinam a existência, na radiodifusão, de
espaços para a comunicação pública, privada e estatal.
Assim, Franklin Martins foi um dos pivôs da criação da
Empresa Brasil de Comunicação – EBC, que seria a gestora de um campo público de
comunicação que reuniria rádios públicas e uma TV pública de alcance nacional:
a TV Brasil. Nem precisa dizer o quanto isso desagradou os empresários de
mídia, que abominam qualquer possibilidade de “concorrência” econômica (mesmo
que neste caso seja mínima) e principalmente de quebra do monopólio da
informação, receosos de terem, enfim, alguém que faça o contraponto àquilo que
eles dizem.
3º pecado capital – ampliar a distribuição de verbas
publicitárias
Não chegou a ser uma revolução as mudanças feitas para
ampliar o número de veículos que teriam acesso aos recursos das verbas
publicitárias do governo, mas mesmo assim ela doeu fundo no bolso das grandes
corporações de mídia.
Imagina que de 2003 a 2010 a Secom aumentou em 1.522% o número de
órgãos de imprensa que recebiam receita publicitária do governo federal. Eram
499 em 2003 e, no final do mandato de Lula, ou seja, sob a gestão de Franklin
Martins, já eram mais de 8.000. Isso sem que tenha se elevado substancialmente
o montante de recursos destinados para este fim. O tamanho do bolo era quase o
mesmo, mas o número de fatias cresceu, diminuindo o pedaço que os grandes abocanhavam.
4º pecado capital – realizar a 1ª Confecom
Imperdoável. A ojeriza da mídia – porta voz e bastião da
elite econômica e conservadora – aos mecanismos de participação social na
gestão pública, mesmo que estes sejam de escuta de demandas, foi elevada à
décima potência quando se teve a notícia de que o governo iria mesmo realizar
uma conferência nacional para discutir o que, na visão deles, deve ser
indiscutível: Comunicação.
Mesmo tendo sido convidados para participar desde o início,
inclusive como organizadores com presença decisiva em posição de definir
critérios e rumos da Confecom, eles resolveram boicotar a iniciativa
“bolchevique” e que representava um perigo para a “liberdade de imprensa e de
expressão”, como assinalaram diversas vezes.
5º pecado capital – defender um novo marco regulatório para
as comunicações
Depois da Confecom, Franklin Martins passou a defender com
maior veemência a necessidade de o país discutir um novo marco legal para as
comunicações, para modernizar a legislação existente e torná-la compatível com
um cenário de convergência tecnológica. O então ministro da Secom montou um
grupo para estudar e elaborar, a partir das resoluções da Confecom, um
anteprojeto de novo marco regulatório. Foi bombardeado pela mídia e taxado de tentativa
desesperada do governo para censurar a imprensa.
6º pecado capital – abrir espaço para a mídia alternativa e
blogs
Todas as iniciativas anteriores, de certa forma, indicavam
um postura da Secretaria de Comunicação da Presidência da República mais aberta
ao relacionamento com pequenos jornais e revistas - classificados como
alternativos -, seja por não estarem no mesmo espectro político dos grandes
meios, ou simplesmente por serem pequenos, o que irritava profundamente os
grandes, claro.
Mas pecado imperdoável mesmo foi o Palácio do Planalto
passar a reconhecer como interlocutores da comunicação os blogs. Essa foi a
gota que transbordou o copo. O presidente Lula participou do Encontro de Blogueiros
Progressistas e pior, recebeu os “sujinhos” para uma entrevista coletiva exclusiva,
o que despertou a ira dos veículos que então detinham essa exclusividade.
7º pecado capital – Franklin continua vivo e influenciando o
governo
Depois de muito bombardeio, o governo Dilma, quando assumiu, afastou Franklin
do seu staff de ministros. A medida foi uma sinalização para a mídia, uma forma
de dizer: - olha, eu não vou mexer nisso aqui não. Mas eis que o fantasma da
regulação e de Franklin Martins continuou rondando Brasília e se materializou
definitivamente no gabinete da presidenta durante a crise das Jornadas de Junho.
Ele foi um dos autores daquele discurso de Dilma em cadeia nacional, que
retomou uma postura mais ofensiva, deixando de estar na retaguarda para assumir
a iniciativa política. Não à toa, desde então, Franklin Martins ocupa um espaço importante
no comando da campanha para a reeleição.
Recentemente, Dilma Rousseff anunciou que iria incorporar no seu
programa de governo itens referentes à regulação econômica dos meios de
comunicação. Alvoroço nas hordas inimigas. Mesmo que a mídia esteja apostando
todas as suas fichas na derrota da candidata à reeleição, é melhor não abrir
brecha e tirar isso daí desde já. Afinal, vai que....
E a pressão resultou, mais uma vez, vitoriosa. Aos 45
minutos do segundo tempo, a campanha retirou o tema do programa que foi
registrado. Agora, é preciso isolar e neutralizar aquele que representa a
possibilidade de esta proposta retornar e evitar que Franklin Martins possa
cometer o oitavo e derradeiro pecado capital: voltar com força num próximo
governo para enfrentar esta agenda fundamental para o país, mas terrível para
os que querem manter tudo como está: democratizar os meios de comunicação.
Prezada Renata bom dia!
ResponderExcluirDidático, direto, objetivo e esclarecedor seu artigo.
Por tudo isso ficamos felizes!
Obrigada!
ExcluirMuito bom.
ResponderExcluirOi Renata ! Muito prazer em conhecer o teu pensamento(claro, porque concordo com ele !). Tu também és objeto de consideração do PHA, Altamiro Borges...Dentre outros, suponho.
ResponderExcluirObrigado
Marco