Neste 2º turno, a
polarização eleitoral vai aumentar. O país tem 20 dias para
escolher que caminho vai seguir nos próximos anos. Acho que é
preciso qualificar a discussão, o que significa sair da simples retórica do ser contra por ser contra e ponto final.
Nos últimos meses,
cresceu um discurso de ódio contra a presidenta Dilma Rousseff. Não
odeio Aécio Neves, nem tampouco amo Dilma Rousseff. E precisa? A
discussão que temos que fazer é política. Nossa escolha não é
entre Dilma e Aécio, mas sim entre os projetos que cada um
representa para o país. Precisamos olhar o Brasil que tínhamos, o que
temos e o país que queremos ter. O que cada um fez, faz e fará por
ele. Minha escolha, pelo projeto representado por Dilma Rousseff se
apoia nesta reflexão.
Propostas econômicas,
Aécio defende Alca e menos investimentos públicos
O programa de Aécio
Neves é bastante explícito no resgate das principais orientações
do modelo econômico neoliberal, que se baseia na redução do papel
do Estado como indutor da economia e garantidor dos serviços
públicos. Este é um dos motivos pelos quais eu não voto em Aécio
Neves.
A política do Estado
Mínimo foi desastrosa, na década de 90, no Brasil e em toda a
América Latina. Gerou miséria, concentração de renda e desmonte
de direitos sociais e trabalhistas. Nos países em que se manteve
essa orientação, não houve crescimento econômico e a desigualdade
só se aprofundou. Basta olhar, por exemplo, a situação do México. A lógica neoliberal – que privilegia o capital
financeiro em detrimento do capital produtivo – resultou em uma das
maiores crises econômicas da história, iniciada em 2008, com
consequências terríveis nos Estados Unidos, na Europa e em outros
países.
Em seu programa, Aécio
Neves afirma explicitamente seu compromisso com a redução do papel
do Estado. Ele coloca como principal meta econômica a geração de
superátiv primário para conter a inflação. Mas ele oculta a
informação para a sociedade de que no governo FHC, a inflação
média anual era de 9,1%, enquanto nos governos Lula e Dilma é de
5,8%.
Para fazer este
superávit, Aécio vai apertar o cinto e “limitar a taxa de
crescimento dos gastos públicos”. Pretende reduzir o papel dos
bancos públicos na oferta dos créditos, dizendo claramente que vai
“definir critérios mais rigorosos
para a concessão de créditos
subsidiados” e que pode, inclusive, descontinuar tais políticas. A redução dos gastos públicos precisa ser feita, segundo o programa tucano, para conter a dívida pública. Mas eles ignoram o fato de que durante o governo de FHC a dívida líquida do setor público representava 60% do PIB, hoje representa 34%.
Aécio já anunciou o seu ministro da Fazenda, o ex-presidente do
Banco Central dos anos FHC, Armínio Fraga, homem que defende
abertamente o arrocho salarial, a redução de direitos trabalhistas
que “elevam o custo Brasil” e grande defensor do capital
financeiro. Atrás da retórica de que é preciso reduzir os juros,
mais uma vez nega a informação de que em 2002 a taxa Selic era de
18.9%, enquanto em 2012 era de 8,5%. (aspas extraídas do programa de governo de Aécio que consta do seu site de campanha).
Ou seja, foi essa
orientação econômica que, apenas em certa medida, foi alterada
pelos governos Lula e Dilma. Digo isso porque o rompimento com a
política macroeconômica ortodoxa deveria, na avaliação de muitos
economistas, ter sido maior. Para alavancar o desenvolvimento
econômico com base na produção e na geração de emprego e renda é
indispensável que o Estado tenha papel destacado na indução deste
projeto.
A diferença entre os dois projetos fica
clara ao se comparar o desempenho da economia durante o governo de
FHC e os últimos 12 anos. O PIB brasileiro era de R$
1,48 trilhões em 2002 e saltou para R$ 4,84 trilhões em 2013 – mesmo com o
cenário internacional desfavorável em razão da crise. Houve crescimento econômico no Brasil graças à
política de investimento público, de enfrentamento dos problemas de
infra-estrutura, com a realização de obras de grande porte, que geraram emprego com
carteira assinada e renda no país. Em razão disso, o PIB per capita
subiu de R$ 7,6 mil reais em 2002 para R$ 24,1mil em 2013.
Indústria nacional e comércio exterior
O programa de Aécio
Neves também não esconde a sua discordância com as várias
políticas de valorização da indústria nacional e do mercado
interno. Respeitando a lógica neoliberal de reforçar o papel do
mercado e colocar a "competitividade" como chave mestra para o
desenvolvimento da economia, diz que o Brasil precisa se integrar ao
mundo, o que impõe reforçar as relações comerciais com Estados
Unidos e Europa.
A ideia é um contraponto à política externa de
valorização das relações comerciais que privilegiam o eixo
Sul-Sul e a integração com a América Latina. Seu programa critica abertamente o
Mercosul e retoma a bandeira da Área de Livre Comércio das
Américas. Se o Brasil tivesse ingressado na Alca, hoje o tsunami que
devastou a economia norte-americana, em 2008, teria colocado o nosso
país em uma situação gravíssima. Imagine como seria a história
se o Brasil fosse, ainda, credor do Fundo Monetário Internacional
nos marcos desta crise? Se não fosse a diversificação do comércio
exterior – que nos anos FHC eram praticamente apenas com EUA e
Europa – o Brasil teria literalmente quebrado.
O que nos permitiu
resistir à crise foi justamente as políticas de fortalecimento do
mercado interno e da indústria nacional e as novas parcerias
comerciais. E o que Aécio propõe é retroceder à submissão
econômica aos EUA e Europa, abandonar as políticas regionais de
integração e ampliar a “competitividade” dos produtos nacionais
com os estrangeiros, reduzindo as cargas tributárias sobre as
exportações. Por isso eu não voto em Aécio Neves de jeito nenhum.
Eu defendo o
fortalecimento do mercado interno, da indústria nacional, um
posicionamento mais soberano do Brasil no mundo. Isso só foi viável
porque os governos de Lula e Dilma investiram nos BRIC's, estimularam o
Mercosul e participaram de outras iniciativas de integração
econômica na América Latina.
Veja mais alguns dados
econômicos* que comparam o desempenho do país a partir de 2002:
Posição entre as
Economias do Mundo
2002 - 13ª
2014 - 7ª
Reservas Internacionais
(Fonte: Banco Central)
2002 – 37 bilhões de
dólares
2013 – 375,8 bilhões
de dólares
Investimento
Estrangeiro Direto (Fonte: Unctad-ONU)
2002 – 16,6 bilhões
de dólares
2013 – 64 bilhões de
dólares
Exportações (Fonte:
Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio)
2002 – 60,3 bilhões
de dólares
2013 – 242 bilhões
de dólares
Produção de veículos
(Fonte: Anfavea)
2002 – 1,7 milhões
2013 – 3,7 milhões
Safra Agrícola (Fonte:
IBGE)
2002 – 97 milhões de
toneladas
2013 – 188 milhões
de toneladas
Índice Bovespa (Fonte:
Bovespa)
2002 – 11.268 pontos
2013 – 51.507 pontos
Valor de Mercado da
Petrobras (Fonte: Petrobras)
2002 – R$ 15,5
bilhões
2014 – R$ 104,9
bilhões
Lucro médio da
Petrobras (Fonte: Petrobras)
Governo FHC – R$ 4,2
bilhões/ano
Governos Lula e Dilma –
R$ 25,6 bilhões/ano
Falências Requeridas
em Média/ano (Fonte: Serasa)
Governo FHC – 25.587
Governos Lula e Dilma –
5.795
* Parte destes dados já
foram divulgados em outros sites, blogs e portais. Antes de
reproduzi-los aqui eu chequei um a um e, ao lado, acrescentei a fonte
que estou utilizando.
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