13.4.15

Galeano o escultor de palavras e sonhos

Se fué. E diante da triste notícia de sua partida as palavras se perdem. Elas que foram esculpidas precisamente pela sua geniosidade. E eu penso na América Latina. Sim, ficamos um pouco órfãos hoje, porque você sempre estava ai para nos lembrar que somos todos irmãos, pertencemos ao mesmo chão, podemos ter línguas e sotaques diferentes, mas somos todos latino-americanos. Nossas veias continuam abertas, e neste dia choram a sua ausência.

Olho para trás, e vejo você em tantos momentos. Suas palavras andantes, os seus abraços, os seus espelhos que refletiam a história sob o olhar de quem não se contenta em ser espectador. Penso nas pessoas, nos ninguéns, os heróis e heroínas desta grande pátria que foram salvos do esquecimento graças aos seus livros. As pequenas histórias que retratam a resistência de um povo para sobreviver. Brava gente!

Queria poder dizer obrigada! Você foi essencial, indispensável. Sem você não teria conhecido lendas, tradições, histórias dessa terra, dos nossos povos originários, a luta pela sobrevivência. Sem você não saberia que placas pelo mundo proibem as pessoas de cantar e brincar. O que mostra que ainda tem gente que brinca e canta. É, o mundo está mesmo ao avesso!

Tudo está de pernas para o ar! Mas nosso desassossego é um combustível potente. Assim como foi o seu. E como nos ensinaste, temos que seguir em direção ao horizonte, olhos no futuro. As transformações são feitas pelas nossas andanças. E caminharemos, mesmo que percalços tornem os caminhos mais longos e ásperos. Porque a nossa utopia é uma esperança.

Você partiu, mas nos deixou tanto! E quantos de nós ainda buscarão inspiração nas suas memórias. Quantos seremos incendiados pela sua chama! De repente, não estou mais triste. Percebo que seu fogo continua aceso.

Como você mesmo disse: “Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros inceideiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chega perto pega fogo”.

Galeano, mesmo apagado, seu fogo queima forte.




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