Se fué. E diante da
triste notícia de sua partida as palavras se perdem. Elas que foram
esculpidas precisamente pela sua geniosidade. E eu penso na América
Latina. Sim, ficamos um pouco órfãos hoje, porque você sempre
estava ai para nos lembrar que somos todos irmãos, pertencemos ao
mesmo chão, podemos ter línguas e sotaques diferentes, mas somos
todos latino-americanos. Nossas veias continuam abertas, e neste dia
choram a sua ausência.
Olho para trás, e vejo
você em tantos momentos. Suas palavras andantes, os seus abraços,
os seus espelhos que refletiam a história sob o olhar de quem não
se contenta em ser espectador. Penso nas pessoas, nos ninguéns, os heróis e heroínas
desta grande pátria que foram salvos do esquecimento graças aos
seus livros. As pequenas histórias que retratam a resistência de um
povo para sobreviver. Brava gente!
Queria poder dizer
obrigada! Você foi essencial, indispensável. Sem você não teria
conhecido lendas, tradições, histórias dessa terra, dos nossos
povos originários, a luta pela sobrevivência. Sem você não
saberia que placas pelo mundo proibem as pessoas de cantar e brincar.
O que mostra que ainda tem gente que brinca e canta. É, o mundo está
mesmo ao avesso!
Tudo está de pernas
para o ar! Mas nosso desassossego é um combustível potente. Assim
como foi o seu. E como nos ensinaste, temos que seguir em direção
ao horizonte, olhos no futuro. As transformações são feitas pelas
nossas andanças. E caminharemos, mesmo que percalços tornem os
caminhos mais longos e ásperos. Porque a nossa utopia é uma
esperança.
Você partiu, mas nos
deixou tanto! E quantos de nós ainda buscarão inspiração nas suas
memórias. Quantos seremos incendiados pela sua chama! De repente,
não estou mais triste. Percebo que seu fogo continua aceso.
Como você mesmo disse:
“Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não
existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras
pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno,
que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de
chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas
outros inceideiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar
para eles sem pestanejar, e quem chega perto pega fogo”.
Galeano, mesmo apagado, seu fogo queima forte.
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