19.2.06

Controle Remoto – do sofá para o mundo

Tenho acompanhado, seja por exigência profissional, seja por interesse político, o debate que se desenvolve no país acerca da introdução da TV digital no Brasil, e qual padrão tecnológico deve ser adotado para sua transmissão.

Infelizmente, essa discussão ocupa pequeno espaço institucional e midiático, reduzindo-se a alguns poucos artigos, editoriais e veículos especializados e, em certa medida, a responsabilidade disso é da própria mídia, que reduziu um debate de tanta importância ao seu aspecto técnico.

Fico pensando na minha mãe, uma mulher aposentada, cinqüenta e poucos anos, nível superior, bem informada, devoradora de livros dos mais diversos estilos, preocupada em entender se devemos adotar o padrão japonês, ISDB-T (Integrated Services Digital Broadcasting - Terrestrial); europeu, DVB-T (Digital Video Broadcasting - Terrestrial); ou americano, ATSC (Advanced Television Systems Committee).

Pautar o tema sob essa ótica tem o objetivo justamente de afastar pessoas como a minha mãe do principal aspecto que envolve a introdução da TV Digital no país, que é o da democratização da informação, o da inclusão digital. Manter a discussão no seu nível técnico é o interesse dos grandes grupos de comunicação que estão de olho no melhor caminho para aumentar a sua já gorda fatia do mercado.

O que todos deveríamos estar discutindo é como fazer com que a adoção de um novo padrão de transmissão, que vai trazer mais interatividade, agregar serviços como o acesso à internet, aumentar a qualidade de imagem e som, pode também contribuir para desconcentrar a produção de conteúdos, e discutir os próprios conteúdos em si.

Opa, péra ai, você está querendo discutir os conteúdos, mas isso é censura, vão dizer muitos. Eu respondo, pode até ser, e daí?

Eu não admito me colocar na condição de receptora passiva de um veículo tão poderoso como a TV e que em seus canais abertos, via de regra (já que toda regra tem exceções) bestificam, banalizam e ridicularizam seus expectadores.

Alguns vão dizer, basta você mudar de canal e não assistir a esses programas. Só quem quer vê, e se existem os Big Brother, os programas vespertinos de sábado e domingo – todos sem exceção neste caso – é porque tem quem goste.

Lastimável pensamento de quem não consegue superar o senso comum, de quem automaticamente e até inconscientemente divide a sociedade entre letrados e ignorantes – os primeiros com a capacidade de procurar canais e programas de melhor qualidade, os segundo uma massa ignara e acomodada.

Espera-se que a TV Digital multiplique por 10 o número de canais existentes. Estou falando aqui dos canais abertos, porque o debate gira em torno do Modelo de Televisão Digital Terrestre Aberta, incluindo-se a recepção através das antenas parabólicas convencionais.
Sem dúvida a mudança do sistema vai abrir inúmeras possibilidades, vejam bem possibilidades, de desconcentração da propriedade, da produção de conteúdos. Por isso, ou focamos o debate nesse aspecto, ou teremos multiplicado por 10 os programas do Gugu, do Raul Gil e tantos outros.

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