27.4.07

Manual Prático do Ódio

O título deste post é o do livro de Ferréz, o escritor que nasceu e cresceu em um dos bairros mais violentos da cidade de São Paulo, Capão Redondo, na Zona Sul, onde mora ainda hoje.
Capão Redondo, como muitos outros bairros de periferia da capital paulista ou de outras cidades do Brasil, é o retrato do cotidiano de uma juventude excluída dos direitos mais básicos como saúde, educação e habitação, esses mesmos consignados na Constituição, mas negados por um Estado que desde sua origem é vocacionado para atender às necessidades da elite nacional e não do povo.
Assim, jogados à sorte, ou ao azar, da vida que os embala de acordo com o som emitido pelas balas de fogo, pelas brigas de rua, pelo choro que brota da miséria e da dor, essas crianças crescem sem perspectivas e buscando sobreviver como dá.
A violência é uma das consequências dessas condições desumanas, degradantes e, também, de uma cultura nacional de que as pessoas são reconhecidas pelo que elas possuem de bens materiais, portanto, os que não possuem, encontram os meios para tal.
Nas ruas do centro se multiplicam os soldados da cola, andando com as garrafinhas por dentro do colarinho da camisa, sugando com a boca a essência da resina que os mantém ligados.
Então, o Estado de Direito, impulsionado pelas elites assustadas com esses meninos que tornam-se adolescentes perigosos e que espalham o terror nas esquinas, impunham como salvadora e moralizadora a bandeira da Redução da Maioriadade Penal.
Sim, a violência que assolada a sociedade brasileira é fruto desses adolescentes degenerados e encarcerar em presídios a juventude pobre do País aliviará essa situação de crise social.
Ah! os argumentos são os mais doces e palatáveis, afinal, o jovem de 16 anos é ciente de suas ações, pode votar, e aliás, alguns vão lembrar que os adolescentes de classe média também cometem seus delitos e serão condenados. Será? Não creio.
O Senador Demóstenes Torres (DEM-GO), autor da proposta que foi aprovada na Comissão de Constituição e Jutiça da Câmara, comemorou eufórico o que chamou de vitória sobre o 'velho esquerdismo', referindo-se aos que são contra a redução. Nesse balaio de 'velho esquerdismo' ele reuniu a OAB, partidos políticos de matizes ideológicas variadas, especialistas em segurança pública, o advogado Ari Friedenbach, pai da jovem Liana que foi assassinada em novembro de 2003, e milhões de outros brasileiros.
Mas alguém precisa ser culpado de tanta violência e a vítima, mais uma vez, é a juventude. O que virá em seguida caso a redução seja aprovada e seja constatado que não houve alteração no problema da violência? Reduzirão ainda mais a maioridade ou quem sabe virá à tona o debate da pena de morte, que aliás, já vigora para esses jovens nas periferias das grandes cidades....
É, parece que o Manual Prático do Ódio vai virar best seller.

2 comentários:

  1. Rê, meu comentário é a descrição de uma cena que vi ontem, indo para o trabalho.

    Um senhor fumava seu charuto (sim, charuto) e tinha todas as janelas do carro aberta, já que essa porcaria é por demais fedorenta. A 15 metros dele, um cara no semáforo pedia dinheiro. A cara de pavor foi incontrolável e o senhor se trancou em meio a sua Cubatão particular até que o cara se afastasse.

    É assim que age a elite. Excluindo e excluindo-se, escondendo o problema. Temos muito o que mudar ainda...

    beijos!

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  2. Anônimo4:10 PM

    Num Futuro...
    Segunda de 2008: Um garoto de 16 foi condenado 23 anos por não ter acesso as coisas que uma minoria tem, era um tênis.
    Terça de 2014: Uma garota de 14 foi condenada por portar uma automatica que uma elite insiste em manter comercializada.
    Quarta de 2018: Um menino de 10 foi condenado por 30 anos por roubar uma bala na padaria.
    Quinta de 2020: Um menino de 7 anos foi pego cheirando esmalte na escola e foi condenado por 45 anos de prisão.
    Sexta de 2025: Uma menina de 4 anos puxa o cabelo de outra e pega 27 anos de prisão.
    Sábado de 2029: Um garoto de 1 ano aprende a primeira palavra "CU". Pegou 18 anos de prisão.
    Domingo: Um bebê nasceu, mas a mãe morreu... O bebê foi condenado a morte.
    Diminuir não adianta. Ë preciso igualdade social e distribuição de riqueza pra eradicar a violência...Será que Eles (elite) topam.

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