24.4.09

Mensagens aos ministros do STF e o café-da-manhã com a Beth

O envio de cartas, e-mails e todas as formas de mensagem para expressar uma posição da sociedade com relação a projetos e debates em curso no Congresso Nacional já é um expediente antigo dos movimentos sociais. As entidades disponibilizam os contados dos parlamentares e incentivam a participação popular.

Agora é a vez dos ministros do STF. A ideia surgiu de uma leitora do Blog do Rovai, que disponibilizou os contatos eletrônicos das Vossas Excelências da Suprema Corte brasileira. Não faria nada mal à prática democrática que todos nós enviássemos mensagens ao ministro Gilmar Mendes (mgilmar@stf.gov.br), expressando o que de fato pensamos de suas atitudes à frente do Judiciário brasileiro.

E, do outro lado, manifestarmos nossa solidariedade ao desabafo do ministro Joaquim Barbosa (mjbarbosa@stf.gov.br), que falou o que estava engasgado há muito tempo. Os outros e-mail você pode encontrar no Blog do Rovai.

Agora, há um lado dessa questão que gostaria de ressaltar. Muitas vezes, nós jornalistas, ou profissionais da comunicação, ou pessoas que participam dos movimentos sociais mais variados, vemos as coisas a partir de um olhar, digamos assim, já iniciado.

Mas e a grande massa popular, que não tem intimidade com os liames da política, como enxerga acontecimentos como o desta quarta-feira entre os ministros do STF? Este questionamento me surgiu hoje, durante o café-da-manhã.

Beth é uma mulher de 34 anos, que está cursando o supletivo e trabalha todos o dias na minha casa. Mãe de duas filhas, ela sempre me surpreende falando da eleição, da prefeita da cidade, de coisas que viu na televisão. Ela é muito conversadeira e, hoje, puxou o assunto:

---Renata, você viu que coisa feia o bate-boca entre aqueles dois homens? Que vergonha, dois homão daquela idade brigando na frente da televisão. Por que será que eles estavam brigando?

Pega de surpresa, me vi em dificuldades de explicar a situação. E ela logo emendou:

--Foi aquele negro que iniciou a briga né? (A colocação aqui não foi preconceituosa, Beth também é negra, foi uma forma de distinguir os dois envolvidos)

Tentei explicar do que se tratava. Disse que a TV mostrou apenas uma parte da discussão, não mostrou os motivos e falei quem era o Gilmar Mendes.

Outra surpresa: "Ah por isso que ele [Joaquim Barbosa] falou para aquele branquelo não tratar ele como se fosse um de seus jagunços". Acenei positivamente.

Beth contou que na hora que a cena passou no Jornal Nacional, foi a filha de 14 anos, Aninha, que chamou ela e o pai para verem a briga dos homens na TV.

Tentei colocar um ponto final naquela conversa que já estava me mostrando como seria infrutifero num diálogo durante o café-da-manhã tentar explicar para a Beth o que tinha se passado de fato.

Ela não tem a menor idéia do que seja o STF, nem tem muita consciência de que o Judiciário é um Poder da República. Para ela Justiça é quem julga criminosos e ponto final.

Essas situações nos mostram o quanto, muitas vezes, ainda falamos para nós mesmos - nós que somos uma parcela ínfima da sociedade brasileira. Disso concluímos o porque a direita tem grande apelo nos setores populares - não precisam se preocupar em politizar nenhum debate.

Do episódio, o que ficou para a Beth não foi o desabafo do Joaquim Barbosa que escancarou com poucas palavras o modus operandi do presidente do STF, muito menos que há uma crise institucional no Supremo ou coisas do tipo. Ficou apenas a imagem de um bate-boca entre dois homens - que devem ter algum poder - e que não deveriam ter feito aquilo como manda a boa educação.

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