Paulo Renato Souza – o ex-ministro midiático de FHC – começou ontem, 14/04, sua gestão à frente da Secretaria Estadual de Educação de José Serra. A substituição realizada pelo governador paulista foi impulsionada principalmente por dois fatores: os resultados negativos da política educacional em São Paulo e a discreta atuação da ex-secretária Maria Helena Guimarães Castro, que tem um perfil mais técnico e menos político, conferindo menor visibilidade a uma pasta de grande importância.
Economista de formação, Paulo Renato construiu uma sólida carreira no setor financeiro. Foi, em 1988, um dos fundadores do PSDB. Ocupou a cadeira de reitor da Unicamp e, em 1995, foi convidado por Fernando Henrique para ser o Ministro da Educação.
Educação ou Mercado Educacional
Os oito anos de Paulo Renato como ministro da Educação tiveram como marca publicitária a criação do Provão, mas o seu legado educacional ocultado pela mídia foi o do sucateamento das universidades federais, o sepultamento das escolas técnicas e a adoção de uma política de expansão das instituições privadas que conferiu à educação um caráter mercantil, um negócio a ser explorado por setores econômicos ávidos pelo lucro fácil.
Sua trajetória como gestor educacional nunca deixou de ter como horizonte o setor econômico. Tanto é que, ao deixar o governo, já tinha assegurada sua nova empreitada: Paulo Renato fundou em maio de 2003 – 5 meses após ter saído do ministério – a PRS CONSULTORES, uma empresa de consultoria especializada na “Indústria do Conhecimento” – a descrição foi encontrada na pagina da PRS na internet. A sociedade foi criada com Renato Souza Neto, executivo da área de funções, aquisições e finanças corporativas do Banco JPMorgan. A função da consultoria – prestar assessoria para as instituições privadas realizando pesquisa de mercado e trançando estratégias para a entrada de instituições estrangeiras no país, fusões, aquisições e expansão de instituições nacionais.
Rezou na cartilha do Banco Mundial
Logo que assumiu o MEC, Paulo Renato já mostrou que iria seguir integralmente as orientações do Banco Mundial para o Ensino Superior, que nada mais eram do que a tradução das políticas neoliberais para a educação.
Os passos que os governos dependentes do modelo neoliberal deveriam seguir estavam colocados em dois documentos principais, um de 1994 – Higher Education: the lessons of experience, no qual se apontava a má utilização dos recursos públicos no setor, que gastava excessivamente com despesas consideradas não educacionais como moradias e restaurantes estudantis, bolsas e outras políticas relacionadas com a Assistência Estudantil. A receita do BM era investir nas instituições privadas e instituir a cobrança de mensaliddes nas públicas. O segundo documento, de 1998 – Accomodating the Growing Demand for Higher Education in Brazil – a Role for Federal Universities? (Atender à crescente demanda por educanção superior no Brasil – Papel das Universidades Federais?), colocava mais uma vez o foco na redução do papel e da presença das instituições públicas, e fazer forte investimento no ensino privado.
Paulo Renato aplicou direitinho a cartilha. Até 2007, a média de abertura de cursos superior no Brasil era de 200 por ano. Já, em 1999, foram autorizados 745 e no ano 2000 foram 865. No setor público, o saldo dos oito anos de FHC-Paulo Renato foi de 15 instituições públicas a menos, redução de 24% dos recursos para custeio (pessoal, água, luz, telefone) e 77% dos recursos para investimento em salas de aulas, laboratórios, computadores e acervo bibliográfico (dados da Andifes).
Paulo Renato acabou com a rubrica no orçamento da União para Assistência Estudantil, tentou instituir a cobrança de mensalidades – mas nisso foi derrotado – transformou o Provão em instrumento de marketing para as instituições privadas atraírem novos ‘clientes’.
Um amigo da mídia
A mídia adora o Paulo Renato e seu estilo grandeloquente. Sempre há reservado para ele um espaço de opinião nos jornais impressos, portais, revistas, rádio e TV. Além de economista, Paulo Renato é um bom propagandista e isso tem um peso extraordinário em qualquer governo, principalmente quando está em jogo a preparação de uma candidatura presidencial.
Paulo Renato será peça chave no projeto eleitoral do PSDB, em particular na candidatura de José Serra. Pode ser um nome forte a figurar entre as opções do partido para a disputa paulista – a depender dos acordos firmados para o governo estadual e Senado Federal.
No seu primeiro dia de gestor paulista, já apareceu dando declarações contra a proposta do Ministro Fernando Haddad para a unificação do vestibular. Fazer o contraponto com as iniciativas do governo federal será uma forma de travar a disputa política e manter o governo paulista na mídia.
Mas e quem é amigo da escola?
O problema é que a Educação paulista precisa de muito mais do que um amigo da mídia, ele precisa de fato de um amigo da escola – parafraseando o lema da campanha da Rede Globo.
Contudo, ser amigo da escola paulista não é, nem de longe, envolver família e comunidade nas tarefas escolares, nem tampouco abrir as dependências da escola para atividades no final de semana. Ser amigo da escola, ou melhor, ser amigo da Educação em São Paulo é reverter a lógica de sucateamento que impera há pelo menos 16 anos, período em que o PSDB mantém-se à frente do governo paulista.
Anos em que foram adotadas uma sucessão de políticas desastrosas que transformaram a escola em qualquer coisa, menos espaço de aprendizagem e produção de conhecimentos. Faltam recursos e investimentos. Faltam professores, falta incentivo e formação continuada para os que estão na ativa, falta um plano de cargos e salários digno e condizente com a função de educador. Faltam escolas, os materiais didáticos são precários, não há bibliotecas, laboratórios, enfim, o que há é uma escola defasada, abandonada e que não desperta interesse no estudante, com conteúdos fossilizados e sem sintonia com o mundo.
Infelizmente, Paulo Renato não vai mudar esse quadro. Não vai porque não foi posto na Secretaria para isso, não vai porque não comunga da visão de que a educação pública deveria ser o vetor principal do sistema educacional brasileiro, não vai porque essa não é a prioridade do governo estadual.
Então, o que vai fazer Paulo Renato? Propaganda. Afinal, a propaganda é a alma do negócio.
A operação 2010 ja começou, reparou a festa para a entrega de um único trem do metro de são paulo ?
ResponderExcluirA mulher era chamada de Maria Louca na rede estadual, tamanha era sua capacidade de se manter equilibrada hehehehehe...
ResponderExcluirSobre o Paulo Renato, eu só tenho a lamentar que ainda precisamos suportar alguém que já fez tão mal à educação brasileira, justamente em uma pasta semelhante no governo do Estado. Sobre a turma dos tucanos ninguém fala. A nossa turma no poder é aparelhamento.