Numa iniciativa que visa dotar o Estado de políticas públicas na área da Cultura e que estejam voltadas para o público e não para o artista, o governo federal lança o Vale Cultura. De acordo com a lei, que será assinada pelo presidente Lula, o trabalhador de baixa renda receberá um vale mensal no valor de R$ 50,00 para ter acesso aos bens culturais (cinema, teatro, museus, espetáculos musicais etc).
A expectativa é que a medida atinja 14 milhões de trabalhadores e injete, de forma direta, R$ 600 milhões por mês no mercado cultural, atingindo cerca de R$ 7 bilhões ano (sete vezes mais do que a Lei Rouanet), de acordo com informações publicadas nesta quinta, no O Estado de S. Paulo.
Formação de públicos
Não são poucos os méritos da iniciativa, que adota um novo foco para a política pública na área de cultura. Porém, a limitação econômica para acessar os bens culturais é apenas uma face do problema da formação de públicos no Brasil. Mesmo nas classes A e B o público que 'consome' cultura no País é restrito.
A ausência de uma formação educacional voltada para a degustação da cultura, como complemento da construção do sujeito crítico e cidadão é um dos fatores limitantes. Poucas escolas formais incorporam em sua estrutura pedagógica esse elemento. Não me refiro apenas às escolas públicas, carentes de tudo. Mas também no ensino privado esse valor cultural é menosprezado.
Outro aspecto que contribui para a baixa presença de públicos é a concentração da maioria dos equipamentos culturais (teatros, shows, cinemas, museus) em regiões centrais dos grandes centros urbanos, que são de difícil acesso aos moradores dos bairros mais distantes. De que adianta o vale para assistir uma montagem teatral no Teatro Sérgio Cardoso, por exemplo, se a pessoa mora em Ermelino Matarazzo? Não é apenas o valor gasto no deslocamento que limita, a distância e os horários também. Para uma família que não possuí automóvel, o retorno para casa fica praticamente inviabilizado a depender do horário do espetáculo, em razão do modelo de funcionamento do transporte público na cidade, para dar o exemplo da capital paulista.
Vale lembrar que há disponível espetáculos culturais por preços populares que variam entre R$ 5,00 e R$ 10,00, muitos gratuitos e que não conseguem atrair novos públicos em razão dos problemas listados acima.
E como seduzir um trabalhador que pouco ou quase nenhum contato teve em sua vida com espetáculos culturais para assistir uma ópera, ou uma montagem de Shakespeare, ou mesmo um filme no cinema que não seja um blockbuster enlatado norte-americano?
Estes são desafios que o Vale Cultura não enfrentará por si só. Não quero com isso, dizer que a iniciativa não seja oportuna, mas precisa vir complementada por uma política que vise formar novas audiências, contribuindo assim para a elevação do nível cultural e, consequentemente, com a formação crítica e cidadã das pessoas. Seria um ganho espetacular para a sociedade.
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