21.9.09

Um mergulho na floresta amazônica

Conhecer a região amazônica é uma experiência que nós dá a dimensão do Brasil e nos faz mais brasileiros. Já falei sobre isso neste blog e disse que reproduziria, aqui, a série de reportagens que fiz quando estive na região do Alto-Solimões em 2005, na reedição do Projeto Rondon.

“A selva nos UNE”

A frase, que representa a necessidade de preservar a Amazônia, é o lema das Forças Armadas. Ela traduz a idéia que simboliza o lançamento do Projeto Rondon. Em solo Amazônico, o sentimento nacional aflora à nossa pele.

de Tabatinga, Renata Mielli

Tabatinga fica incrustada no meio da selva amazônica. Quando chegamos no pequeno aeroporto da cidade, podemos ver um mar de árvores aos nossos pés. A cidade é plana, asfaltada e muito simples, mas, à primeira vista, bem organizada. Não tem posto de gasolina, mas possui a maior frota de motos por habitante do Brasil.

Foi nesta pequena cidade da tríplice fronteira com a Colômbia e o Peru, que neste dia 19 de janeiro de 2005 aconteceu a abertura oficial do Projeto Rondon.

Com um fuso horário de três horas a menos que Brasília, desde muito cedo todos estavam mobilizados para a solenidade de abertura, que aconteceu no auditório do 8º Batalhão de Infantaria da Selva – BIS. O ato começou às 11 horas, com a chegada do Presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, acompanhado da primeira-dama; do Vice-Presidente e Ministro da Defesa, José Alencar; dos ministros Aldo Rebelo, da Coordenação Política; Tarso Genro, da Educação; Luis Dulci, Secretário-Geral da Presidência; Celso Amorin, Relações Exteriores; do Comandante do Exército, General Albuquerque; do Comandante da Aeronáutica, Tenente Brigadeiro Bueno; do Comandante da Marinha, Almirante de Esquadra, Guimarães Carvalho; do General Arantes, coordenador do Projeto Rondon; do professor Estanislau de Oliveira, da Associaçao dos Ex-rondonistas; do governador do Amazonas; e do prefeito de Tabatinga, entre outras autoridades e personalidades.

Transformados pelo conhecimento
O primeiro a saudar os rondonistas foi o Ministro da Defesa, José Alencar. Ao lembrar do 47º aniversário da morte do Marechal Rondon, afirmou que o país reconhece hoje “a importância do respeito aos valores regionais e indígenas que compõem a nossa diversidade”, referindo-se a uma das missões do Projeto de propiciar o contato dos jovens de todas as partes com os povos amazônicos.

Alencar afirmou que o Projeto tem uma vocação de inclusão social, que só foi possível graças à parceria do governo com a UNE, com as universidades, as Forças Armadas e outras instituições do país. “Cada um dos participantes do Rondon irá sair transformado pelo conhecimento da realidade do Brasil”, disse o Vice-Presidente.

O Ministro da Educação, Tarso Genro, destacou as políticas de inclusão social implementadas pelo atual governo para diminuir as desigualdades, permitindo um maior acesso da população à Universidade e à Educação Básica. Genro disse que o MEC, desde o início da proposta de retomada do Rondon, ficou entusiasmado pela sua importância acadêmica, que poderá revigorar a Extensão Universitária. E finalizou: “quando os estudantes e a universidade brasileira se voltarem para a realidade da Amazônia estaremos construindo um novo Brasil e o Projeto Rondon pode propiciar isso”.

Defesa dos interesses nacionais
O Presidente da UNE, Gustavo Petta, afirmou que “a unidade de forças heterogêneas da sociedade brasileira sempre foi decisiva para as grandes transformações e para a defesa dos interesses nacionais. A UNE sempre procurou se posicionar ao lado daqueles que colocam como centro os interesses do país, lutando pelo seu desenvolvimento e contra as enormes injustiças sociais”. Para Gustavo, o relançamento do Projeto Rondon entrará para a história da UNE como um desses momentos, porque “conhecer a realidade brasileira, contribuir com o conhecimento adquirido na universidade para soluções dos nossos graves problemas sociais, defender a preservação e a integração da região Amazônica” são questões estratégicas que fazem parte dos objetivos do Projeto Rondon.

Gustavo foi muito aplaudido quando falou do caráter estratégico da Amazônia: “todos nós sabemos da importância da Amazônia para o Brasil e para a humanidade. Mas todos deveriam saber que quase toda a Amazônia faz parte do nosso território e que, portanto, deve ser preservada, desenvolvida e orientada pelos nossos interesses”. Denunciou a ganância orquestrada pelos Estados Unidos para difundir a idéia de que a Amazônia é internacional e, por isso, tem que ser dirigida por organismos internacionais, afrontando a nossa soberania. “Soma-se a esses ataques à nossa soberania a crescente presença norte-americana na região de nossas fronteiras, através de bases militares, deslocamento de tropas e do absurdo Plano Colômbia. Por todas essas ameaças, a UNE, mais uma vez em sua história, está ao lado das forças armadas para defender a Amazônia soberana, preservada e brasileira”. E, aproveitou, para anunciar que a entidade irá lançar uma campanha pela proteção da região: “Amazônia, Território Brasileiro!”

O Brasil começa aqui!
Em seguida, Geisa, estudante da Universidade Federal do Paraná, fez sua saudação em nome de todos os rondonistas e afirmou que para todos os acadêmicos presentes participar da primeira Operação do Projeto Rondon é um privilégio. “Poder contribuir com nosso conhecimento científico é, antes de tudo, retribuir à comunidade brasileira o investimento que nos é propiciado através das universidades públicas e projetos de pesquisas. Também conhecer e reconhecer um pouquinho da Amazônia com todas as suas particularidades era uma possibilidade remota para muitos de nós antes da retomada do Rondon”, afirmou. E concluiu: “ansiosos pela experiência individual que certamente será agregada, partiremos para as comunidades, sensíveis no coração, atentos no olhar e sábios nos pensamentos, para captar a cadência do povo amazônico, tal qual os rios da grande floresta! Estamos redescobrindo o país, afinal, o Brasil começa aqui”. Ao final de sua saudação, Geisa presenteou o presidente Lula com um chapéu do rondonista e arrancou aplausos de todos.

“Para muitos de vocês, jovens integrantes do Projeto Rondon, esta é uma viagem de iniciação a um Brasil, do qual vocês tem algumas informações e conhecimento, mas, por falta de oportunidade ou mesmo de estímulo, possivelmente, não avaliem a dimensão exata dos nossos desafios e a chance histórica de superá-los nessa geração”. Com essa frase, que resume a aposta em um novo Brasil, o Presidente Lula abriu seu discurso na solenidade de lançamento do Projeto Rondon.

2ª Certidão de Nascimento
Lula lembrou que a experiência da migração do sertão pernambucano para São Paulo mudou sua vida. “A escola pode provocar efeito semelhante nos corações e mentes da juventude contribuindo, assim, para dar todos os referenciais e pontos de partida para a vida”. Por isso, explicou o presidente, o governo está investindo para democratizar o acesso à educação, “as cotas que instituímos são uma trilha republicana para a igualdade”. Ao lado da importância da educação formal, Lula disse que a vivência, o contato com a realidade, pode transformar a vida de um jovem, e desse contato nasce “a consciência social, que é a segunda certidão de nascimento do ser humano”.

Para Lula, “a democracia coloca ao alcance de nossas mãos uma tarefa política cobrada pelo país e agendada pela história. Trata-se de continuar trilhando o caminho do desenvolvimento nacional em sintonia com um profundo e eficaz projeto social. Um projeto que responda aos apelos da vida e inaugure um novo tempo para o nosso povo”.

O presidente lembrou que, num passado recente, o Brasil trilhou o caminho inverso, porque o Estado perdeu o foco principal, “o individualismo triunfante corroeu a auto-estima nacional numa aspiral de desigualdade. É por entender esse recado da história que apoiamos a proposta da UNE e da Associação dos Ex-rondonistas e criamos um Projeto Rondon com a cara do Brasil de hoje”. Lula afirmou que é preciso recriar a idéia de nação com base no interesse coletivo “é para isso que vocês estão aqui”, disse aos rondonistas.

Após a solenidade, o Presidente e os demais presentes participaram da cerimônia de formatura de soldados no BIS. Em seguida, Lula almoçou com os rondonistas.

Publicado em 19/01/2005 no Estudantenet

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