22.10.09

O texto oculto da imagem

Por dever de ofício e para estar atenta aos descalabros que o folhetim do PSDB em São Paulo produz diariamente, continuo assinante da Folha de São Paulo. De tempos em tempos, indignada com as posturas editoriais gritantes do jornal, cancelo minha assinatura. Mas, passado certo tempo, acabo voltando à carteira de assinantes.

Foto Macabra
Como faço toda manhã, ao sentar-me à mesa para o café, abro os jornais a começar pelo Estadão (do qual também sou assinante). Ontem, (quarta-feira, 21) fiquei estarrecida ao me deparar com a foto principal na capa da Folha.

folhacarrinho
Usar ou não fotos desse tipo, que chocam pela violação da dignidade humana, sempre levantam polêmica fora e dentro das redações. Sensacionalismo ou denúncia da realidade?

Qual a intenção do jornal?
Não sei se a questão se resolve apenas nestes dois polos. A escolha de imagens como esta para estampar a capa de uma edição passa por uma avaliação minuciosa de todos os aspectos positivos e negativos.

Neste caso, a foto não está associada a nenhuma manchete de capa e remete à reportagem do caderno Cotidiano que atualiza a situação do conflito no Rio. Porque então ela ganhou tamanho destaque?

Alguns podem dizer que a foto dispensa manchete porque ela já é a informação. Ok. Mas será que as pessoa já não estão suficientemente bem informadas dos problemas de segurança e da onda de violência no Rio de Janeiro? Publicar essa foto altera de alguma maneira a situação ou a postura das pessoas e/ou instituições diante do problema? Que contribuição ela traz?

Mensagem oculta
Então, para que publicá-la? Porque o objetivo da foto não é desnudar a violência. Há uma leitura subliminar e indireta dessa imagem que deve ter orientado a sua publicação: a violência no Rio de Janeiro fugiu ao controle e isto é responsabilidade dos governantes. O texto oculto da imagem pode ser verdade, mas seu objetivo não é humanitário, é político: atingir o governo Lula.

Se a publicação da foto for vista de forma isolada, a afirmação pode parecer absurda. Mas se vista dentro do contexto editorial e da postura que o jornal tem tido diante do governo Lula (eles se orgulham de serem chamados da mosca que perturba o sono), dos compromissos com o tucanato, e, acima de tudo, com a campanha anti-Dilma, vemos que as coisas se encaixam.

E, se o objetivo editorial do jornal é portar-se como o partido de oposição ao governo, como fica claro a cada manchete e foto publicada na Folha, então é válido usar de sensacionalismo, de artifícios chocantes e degradantes – como a foto desta edição. Estou pensando seriamente em cancelar, de novo, minha assinatura.

Um comentário:

  1. Sensacionalista com certeza. Mas infelizmente e digo infelizmente MEEESMO, a desgraça VENDE. As pessoas sempre tendem mais para a desgraça (principalmente a alheia). Quanto mais "sensacional", mais chama a atenção. Penso que as armas contra esses abusos está nas nossas mãos (sociedade) mas nós insistimos em não saber usá-las.

    excelente post!

    atenciosamente

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