17.2.10

Entre cinzas e foliões

Dizem que no Brasil, o ano só começa depois do Carnaval. A folia serve como uma espécie de lavagem do corpo e da alma, uma catarse coletiva para renovar os ânimos.

Ano após ano o noticiário mostra que o número de foliões cresce exponencialmente e se diversifica. As pessoas vão se aglomerando numa muvuca musical que chega a ser assustadora. Tem carnaval para todos os gostos: trio elétrico na Bahia, frevo e maracatu em Pernambuco, cordões e blocos espalhados pelo interior e em capitais importantes, o desfile de escolas de samba – desde as grandiosas do Rio e São Paulo – até as agremiações menores de cidades pequenas, tem o carnaboi no Amazonas, quem sabe até o carnavanerão no Sul. É música, virou carnaval.

E merchandising, muito merchandising para vender de tudo. O carnaval é um dos negócios mais rentáveis do país. Atrai o turismo internacional, movimenta o turismo nacional, e alavanca a venda de coisas e pessoas. Afinal, no capitalismo tudo e todos não passam de produtos a serem comercializados.

É cada vez mais comum trazer artistas para endossar marcas. Em 2010 o desfile de celebridades internacionais contou com Madonna, Paris Hilton, Gerard Butler entre outros que fizeram a festa na Sapucaí e no Copa. E entre as atrações nacionais a presença é obrigatória. Gostando ou não de carnaval tem que marcar presença.

Em ano eleitoral, como este, também é obrigatório aos candidatos fazerem a maratona da folia. Desde quando é pré-requisito para ser candidato a governador, prefeito, ou presidente ter que gostar de carnaval? Os jornais usaram e abusaram da Dilma claramente exausta no camarote do governador do Rio na primeira noite de desfiles. E ainda anotaram, com uma conotação negativa, que ela não aguentou até o fim e saiu, cedo, à francesa. Qual o problema?

Não me levem a mal, não sou dessas pessoas que acha o carnaval uma festa que reúne pecadores. Pelo contrário, gosto de cair na dança, vou à quadra de escola de samba, a blocos, já visitei o Galo da Madrugada e os quatro cantos de Olinda. Já pulei carnaval de marchinha na praça do coreto. Mas me incomoda demasiadamente essa ditadura do carnaval, essa tentativa de impor um comportamento – não pular carnaval é quase um desvio de personalidade, as pessoas te olham com estranhamento.

Dizem, também, que a quarta-feira de cinzas tem um quê de melancolia.... Vai ver por isso esteja tão crítica. Talvez esteja saudosa de outros carnavais, onde a folia e a alegria eram naturais, espontâneas e não essa coisa fabricada que vemos hoje. Pode ser.

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