Dois veículos de comunicação no Brasil assumiram despudoradamente o papel de fazer oposição ao governo Lula. Esses veículos são o jornal Folha de S. Paulo e a revista Veja.
A o Folha é folhetim tucano que difunde da forma mais escancarada os fundamentos do neoliberalismo, fazendo a apologia do Estado mínimo, do privado acima do público, do indivíduo acima do coletivo, e todas as cantilenas nascidas no Consenso de Washington está com a bazuca apontada para o planalto. A Veja, o semanário mais reacionário do país.
O alvo da vez é o assessor da presidência, Marco Aurélio Garcia, em razão de suas declarações acerca da programação veiculada pelos canais de TV a cabo. Garcia criticou, “a hegemonia cultural dos EUA” dizendo que “eles realizam, de forma indolor, um processo de dominação muito eficiente, despejam todo esse esterco cultural (…) A emergência desse lixo cultural nos deixou numa situação grave”.
Em mais um episódio do jornalismo estilo massacre, no qual não há nenhum espaço para o contraditório, o caderno Ilustrada desta quinta-feira dedica três páginas inteiras para desancar Garcia e, de tabela, o governo do presidente Lula. O mesmo fez a Veja, em reportagem no qual chama Marco Aurélio de “Lost Garcia, fã de uma ilha tropical parada no tempo que não é a do seriado”.
Enlatados made in USA
Generalizações não contribuem para uma análise mais correta de situações. Longe de mim afirmar que tudo que vem dos Estados Unidos é lixo cultural. E, certamente, que Marco Aurélio Garcia também não pensa assim. Levar a polêmica para estes termos, como fez a Folha e a Veja só contribui para reforçar estereótipos e desinformar.
Ao contrário do que afirma o jornalista Marcos Augusto Gonçalvez, não é no discurso de Garcia que “tudo se move segundo o maniqueísmo pueril e ao mesmo tempo brutal do marxismo vulgar”, mas sim no seu próprio arrazoado de argumentos para desqualificar a ideia de que há, sim, uma dominação cultural exercida pelos Estados Unidos.
Reconhecer que a hegemonia exercida pelos Estados Unidos no mundo faz parte de um projeto de poder que ultrapassa em muito a economia e a política, mas é também um domínio cultural, de impor ao mundo o ‘american way of life’ é indispensável para se fazer um debate mais profundo sobre a questão levantada por Garcia. Ai é que a coisa desanda, porque submissos e colonizados que são, Folha e Veja recusam e abominam esta premissa.
Mais espaço para a produção nacional
O centro do debate levantado por Garcia não é proibir a veiculação de produções estrangeiras na TV a cabo. Mas o inverso, garantir espaço para a produção nacional. É inconcebível que apenas 6,4% dos filmes exibidos nos canais a cabo sejam nacionais. Na TV aberta, 71% do conteúdo veiculado são ocupados por produções norte-americanas, dados que a própria reportagem da Folha traz.
A gritaria da mídia tem como alvo desconstruir a proposta de haver cotas para a veiculação de conteúdo nacional nas emissoras de televisão. Medida que já é adotada em muitos países. A lógica de colônia que move o pensamento de parte dessa elite nacional é tão profunda, que inverte, a partir do censo comum, a ordem do debate.
O Brasil, assim como qualquer outra nação do planeta, não tem que discutir espaço e cota para a produção nacional, mas sim o inverso. As nossas emissoras de televisão deveriam estar dando vazão para a produção independente brasileira, para a produção regional, estimulando e valorizando a cultura nacional.
Mas isso, para eles, é censura, é esquerdismo ultrapassado, “é uma concepção estanque de culturas nacionais que deveriam ser protegidas por muralhas para não se deixarem conspurcar pelo esterco alheio”, como ridiculariza o editor de opinião da Folha, Marcos Augusto Gonçalves.
Desde quando, senhor Marcos Augusto, dar espaço para o que se produz no Brasil é uma concepção estanque? Quem foi que disse que para ter um produto audiovisual de qualidade, interessante, de entretenimento ou educativo, é preciso importá-lo dos EUA? Por acaso não temos nada a mostrar? Até quando vamos manter a ideia de que o que vem dos Estados Unidos é melhor do que o nosso?
O porta voz da Veja para analisar a questão é sociólogo Demétrio Magnoli que dedica sua vida a criar bases teóricas para dar sustentação ao capitalismo decadente. Na opinião de Veja – porque o texto publicado na revista nem pode ser chamado de reportagem – que vem ancorada na autoridade de Magnoli, a tentativa de Marco Aurélio Garcia com sua declaração é “abrir uma nova frente de combate no objetivo marxista permanente de dominação, controle e vigilância da mente dos brasileiros. Essa ideia fixa petista vem sendo tentada de diversas maneiras há sete anos – sempre rechaçada pelas pessoas bem-intencionadas de todos os matizes ideológicos. Agora se tenta via controle da TV a cabo”.
Sem puderes, os signatários das ideias liberais se auto-intitulam “pessoas bem-intencionadas”. Veja só. Então os que defendem a valorização da cultura nacional são o que, mal-intencionados? Quem quer dominar a mente são os que lutam para haver mais espaço para a produção nacional…. Estes que são doutrinários e querem usar a TV para criar um exército contra o capitalismo? Porque não adotar o mesmo raciocínio para o que pretendem os estadunidenses com seus produtos. Ah! não… isso é esquerdismo. O que vale para nós não vale para eles e vice-versa. Que ridículo!
Essa mídia vassala está perdendo as estribeiras. Eles disputam palmo a palmo, lauda a lauda o troféu pra ver quem é mais oposição ao governo. Para isso vale tudo, até jogar esterco no ventilador.
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