1.2.10

O mau hábito de olhar pelo buraco da fechadura

Quando eu era criança, algumas travessuras cometidas foram provocadas pelo ímpeto da descoberta, da curiosidade, do teste dos limites entre o certo e o errado. Lembro do dia que fui espiar, pelo buraco da fechadura, o que acontecia no quarto da minha mãe. Tomei uma bronca inesquecível e aprendi que a privacidade das pessoas tem que ser respeitada, que não se deve ficar espiando e nem escutando atrás das portas a conversa alheia.

Mas o surgimento dos realities shows colocou esses ensinamentos por água abaixo. Como ensinar às crianças de hoje que é errado ficar à espreita espiando e ouvindo quando fazemos isso coletivamente, pela TV e internet?

Espie à vontade, é o bordão do Big Brother Brasil que começa nesta terça a sua 10ª Edição. Não importa que nos últimos anos a casa de confinamento tenha perdido pontos de audiência, o que vale é a manutenção de patrocínios e um exército de pessoas que não vê problema algum em espiar e, pior ainda, julgar a atitude das pessoas transformadas em competidores.

Espiamos as pessoas 24 horas por dia pela internet, ou pelos canais pay-per-view e vemos tudo (a hora do banho, de dormir, almoço, jantar, café da manhã, piscina e tudo mais que se possa fazer entre quatro paredes).

As emissoras de televisão tratam esses programas como entretenimento, mas não se preocupam com os seus impactos na construção da identidade social e cultural das crianças e adolescentes, que são bombardeados pelas situações provocadas nos BBB´s da vida.

E, porque não, dos adultos também. Afinal, patrulhar a vida alheia passa a ser prática chancelada pela TV, bem como as condutas estimuladas pelos participantes desses realities shows onde vale tudo para ganhar um prêmio. Que ótimo entretenimento não?

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