31.3.12

Comunicação Pública é estratégica para a democracia


O exercício da democracia pressupõe o diálogo entre posições distintas para alcançar um objetivo que esteja à serviço do interesse público. A construção desse diálogo, numa sociedade mediada pela comunicação de massa (rádios, televisão, jornais, revistas, internet) passa necessariamente pela garantia da pluralidade e da diversidade nos meios de comunicação.

Num país como o Brasil, onde a mídia comercial é majoritária, estes espaços foram historicamente ocupados por um setor econômico e social que representa os interesses da elite nacional. Não se consagrou construir espaços públicos para garantir que segmentos populares, comunidades locais, setores com pontos de vistas políticos e culturais diversos pudessem expor suas ideias, estabelecendo o contraditório para ofertar às pessoas uma alternativa de comunicação.

Somos uma nação que viveu pequenos períodos democráticos. O que estamos atravessando é a maior janela de liberdades e direitos desde a proclamação da República. Por isso, enfrentar o desafio de construir e consolidar uma comunicação pública é tarefa urgente para o aprofundamento da democracia brasileira.

É nesse contexto que se insere a relevância das discussões realizadas durante o Seminário Internacional de Regulação para Comunicação Pública, promovido pela Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e Direito à Comunicação – Frentecom.

Foram 3 dias (21, 22 e 23 de março) com painéis e debates que abordaram questões de infraestrutura, financiamento, participação social e o papel que a comunicação pública precisa ocupar para cumprir sua vocação de promotora da pluralidade e da diversidade.

Reverter o modelo comercial adotado pelo Brasil não é tarefa simples. A resistência à constituição de um campo público de comunicação tem motivações econômicas e políticas. Isso porque num cenário de concentração da propriedade, a rentabilidade do “negócio comunicação” é repartida entre poucos agentes econômicos. E também porque quanto mais monopolizada a comunicação, maior o poder de construção da tal opinião pública de acordo com os interesses ideológicos e políticos da elite brasileira.

Uma parte deste nó está sendo desatado pela acelerada transformação tecnológica. Até vinte e poucos anos atrás, a comunicação no país estava restrita às emissoras de televisão abertas, ao rádio e aos grandes jornais e revistas. Por aqui, a introdução da TV por assinatura é recente e até 10 anos atrás atingia uma pequena porcentagem da população de maior renda. O mesmo se passa com a internet. Mas, com a ampliação de renda e da classe C, estas duas novas plataformas de comunicação já estão contribuindo muito para alterar a exacerbada concentração da mídia nacional.

Contudo, no que diz respeito à ocupação de espaços na radiodifusão aberta o cenário se mantém praticamente inalterado. Os mais poderosos meios de comunicação de massa – a televisão e o rádio – continuam sendo objeto de monopólio privado.

Por isso a criação da EBC, empresa que opera a TV Brasil e várias emissoras públicas de rádio, trouxe incômodos e tem sido alvo de ataques. Por mais modesta que seja essa experiência, ainda em estágio inicial, ela se constitui em ameaça pelo que ela pode significar. A oferta de uma alternativa ao que é veiculado na mídia comercial, promovendo a cultura nacional e regional, dando espaço para a produção independente é uma arma poderosa contra o pensamento único e a visão pasteurizada que se impingiu do Brasil.

Além da EBC, o movimento de fortalecimento das TV's e rádios comunitárias, das TV's universitárias, legislativas, educativas, estaduais, enfim, de toda a comunicação que não está sob o domínio da esfera comercial é visto como uma um espectro que ronda a liberdade de expressão dos atuais donos da comunicação brasileira. Os representantes da mídia hegemônica e conservadora são refratários a qualquer iniciativa que traga um mínimo de pluralidade e alternativa ao que eles apresentam à sociedade.

No debate que vai se estabelecer em torno de uma nova lei geral para as comunicações, o capítulo destinado à comunicação pública deve ter especial atenção dos movimentos sociais. Por isso, é fundamental a realização do 1º Fórum Nacional da Comunicação Pública, conforme apontado pelo Seminário realizado pela Frentecom.

Este Fórum precisa reunir gestores da comunicação pública, governos e movimentos sociais para detalhar as contribuições deste campo para o novo marco regulatório.

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